quarta-feira, 4 de julho de 2012

Headhunters


O cinema escandinavo surpreende mais uma vez. Depois da trilogia sueca Millenium – injustamente ofuscada pelo remakeamericano de David Fincher –, vem daquelas bandas, mais especificamente da Noruega, outra ótima surpresa cinematográfica. Trata-se de Headhunters, um thriller dinâmico, sangrento e muito engenhoso.

Roger Brown é um dos mais respeitados especialistas em seleção e recrutamento da Noruega. Ele acredita que a reputação de um homem é tudo e, portanto, gosta de exibi-la usufruindo um padrão de vida muito acima de suas reais possibilidades. Para conseguir manter as aparências, Roger concebeu um esquema: com as informações conseguidas ao entrevistar altos executivos, ele e seu cúmplice Ove roubam obras de arte, substituindo-as por réplicas, cuja falsidade só é descoberta quando o original já foi entregue a um receptador fora do país. Nem mesmo Diana, esposa de Roger, conhece sua vida dupla, mas esses estilos de vida totalmente antagônicos entrarão em choque quando ele conhece Clas Greve, uma vítima em potencial que também possui uma faceta oculta.

OK. Apresentar um personagem fora-da-lei e antiético e, mesmo assim, fazer com que o público torça por ele quando as coisas realmente ficam complicadas não é novidade, mas geralmente esse tipo de personagem é personificado por um ator com o biotipo do herói, ou seja, alto, forte, bonito. Headhunters foge do lugar-comum ao escalar para o papel de Roger o baixinho Aksel Hennie e ainda colocar em seu encalço o galã Nikolaj Coster-Waldau (ele mesmo, o Jaime Lannister de Game of Thrones).


Também é muito interessante o modo como a trama se inicia no mundo empresarial, descamba para a ação desenfreada e, ao final, consegue unir essas vertentes distintas em um desfecho irônico, inteligente e bem amarrado com os pontos estabelecidos no início do filme. Especialmente saborosa é a explicação para a competência do policial infalível.

Algumas pessoas poderão achar que o filme abusa um pouco da suspensão da descrença do espectador. Bobagem. O roteiro de fato usa o exagero como metáfora do capitalismo selvagem e, nesse ponto, lembra um pouco o argentino O Que Você Faria? (ainda que com uma pegada mais radical), mas aqui vale muito mais a engenhosidade com que a história se desenrola do que o apego excessivo à verossimilhança. E vamos combinar, o que seria do gênero ação/aventura sem algumas façanhas sobre-humanas?


Falar mais sobre Headhunters acabaria sendo um desserviço ao espectador, já que estragaria a maioria das surpresas. Fica aqui a recomendação de que vale muito a pena conferir essa original aventura à la James Bond vinda da Noruega. Só não demorem muito, porque talvez o longa não consiga se manter muito tempo em circuito diante da concorrência dos blockbusters de julho. 

2 comentários:

  1. Acabei passando a oportunidade de pegar a cabine desse filme, mas certamente vou assisti-lo a qualquer momento. Parece mesmo ser um ótimo exemplar do gênero, uma vez que Hollywood já comprou os direitos para fazer uma refilmagem (novidade!). Após a deliciosa trilogia "Millenium", é bom saber que há outra obra eletrizante vinda do cinema escandinavo.

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  2. Veja sim, Alex. E acho bom ficarmos de olho nas produções de lá. Depois da excelente fase do cinema oriental (em especial o coreano) como "celeiro de novidades", talvez seja a vez dos escandinavos nos darem algumas aulinhas de bom cinema.

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