quinta-feira, 19 de julho de 2012

Menos Que Nada


O protagonista da história é Dante, paciente em uma instituição psiquiátrica que alterna estados de completo isolamento com crises violentas sempre que alguém tenta interferir em seu universo particular. Quando a dra. Paula, jovem psiquiatra que faz residência no hospital, resolve usar Dante como objeto de sua tese, é desaconselhada a seguir adiante pelo fato de seu estado mental ser considerado irreversível. Mas Paula encontra uma ponte para dialogar com Dante através de vídeos que faz de pessoas que o conheceram no passado, assim atraindo sua atenção e, ao mesmo tempo, desvendando os motivos que acabaram com sua saúde mental.

Menos Que Nada é o novo longa do cineasta gaúcho Carlos Gerbase, que trabalha mais uma vez em colaboração com a esposa, Luciana Tomasi. Gerbase é especialmente conhecido pelo provocador Tolerância (2000), filme no qual a tecnologia também desempenha um papel fundamental para a trama. Se em Tolerância a manipulação de imagens acaba por criar mal-entendidos graves e precipitar uma série de conflitos, em Menos Que Nada os seus efeitos são mais conciliadores, permitindo que o personagem Dante se reencontre com o passado através dos vídeos gravados pela dra. Paula.


O roteiro escrito por Gerbase em conjunto com Marcelo Backes e Celso Gutfreind arrisca um pouco ao criar tantos desdobramentos para a história de Dante, em um leque que vai do triângulo amoroso à arqueologia, mas, no final das contas, consegue manter a unidade e amarrar as situações.

O grande destaque do filme, sem dúvida, é o trabalho excepcional de Felipe Kannenberg como Dante. Contido e muito retraído nas cenas do passado são e com uma mobilidade incrível de se transfigurar em suas cenas como louco, o ator faz com que o espectador não consiga desgrudar os olhos de sua imagem em cada uma de suas cenas. Igualmente feliz é a escalação de Roberto Oliveira para o personagem de Gregório, pai de Dante. Com uma verve cômica, sem, contudo, resvalar na caricatura, o personagem é um sopro de irreverência em meio a um panorama tão tenso.


É uma pena que as personagens femininas não causem uma impressão tão forte quanto as masculinas, já que seria interessante saber mais sobre as motivações da dra. Paula de Branca Messina (como, por exemplo, o motivo daquele paciente em particular ter tocado seu coração). Também a René de Rosanne Mulholland e a Berenice de Maria Manoella parecem pouco reveladoras. Mesmo considerando Dante como o protagonista absoluto da trama, faz falta conhecer um pouco mais a fundo essas três mulheres que tocaram a sua vida tão decisivamente.

Em todo caso, trata-se de um filme que levanta questões interessantes sobre questões éticas, morais e, principalmente, sobre os mistérios que servem de alicerce para a nossa saúde mental. A partir de amanhã nos cinemas.  

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