quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Bling Ring – A Gangue de Hollywood


O cinema de Sofia Coppola apresenta ao menos dois temas recorrentes. Em primeiro lugar, seus protagonistas são sempre jovens com problemas de autoestima tentando se encontrar e/ou se adaptar a uma situação hostil; segundo, as tramas, das quais Sofia também é roteirista, sempre criticam acidamente o jogo de aparências da sociedade, a indústria do entretenimento e o culto às celebridades. E essas caraterísticas se aplicam até mesmo à visão da cineasta para a rainha decapitada da França, Maria Antonieta – não por acaso, seu filme mais criticado e controverso. Considerando isso, quem seria mais apropriada para a direção de um filme que narra os assaltos promovidos em Hollywood por uma gangue de jovens de classe média?

Neste seu quinto longa, Sofia parte do artigo jornalístico de Nancy Jo Sales The Suspects Wore Louboutins (Os Suspeitos Usavam Louboutins, ou seja, sapatos de um famoso estilista) para desenhar um painel dos valores de uma juventude que cresceu sob a ditadura das aparências e do compartilhamento de felicidade virtual em redes sociais. O grupo conhecido como “Bling Ring” – alguns dizem que o termo se refere ao tilintar das joias; outros, ao som dos sms – cometeu uma série de furtos milionários nas mansões das celebridades de Hollywood. Obcecados em copiar seus ídolos, eles se aproveitavam da facilidade de saber quando os famosos estavam fora para roubar não somente dinheiro, mas principalmente os artigos de luxo e as roupas e acessórios de grife. Paris Hilton, Orlando Bloom e Lindsay Lohan foram algumas das vítimas.


Embora houvesse também o fator monetário na questão, a razão primordial que movia a gangue era o sentimento de ser cultuado, se sentir-se destemido, invencível, enfim, uma celebridade. Tanto que fica bem claro que a polícia nunca chegaria até os membros se eles mesmos não se exibissem tanto nas redes sociais ou contassem tanta vantagem em festas e noitadas. Obviamente, nenhum deles era burro a ponto de não saber que estava brincando com o perigo, mas era simplesmente irresistível. Segundo a lógica dos dias de hoje, de nada adianta fazer algo e não poder contar isso depois.

O filme é muito bem dirigido, com a habilidade de sempre da diretora em lidar com jovens atores. O elenco todo está muito convincente, com destaque para as talentosas Emma Watson (mais uma bola dentro da ex-Hermione da franquia Harry Potter) e Taissa Farmiga (irmã mais nova de Vera Farmiga). Interessante também o modo como são retratados os pais, alguns simplesmente omissos e outros iludidos em estar incutindo seus valores aos filhos, como é o caso da mãe da personagem de Emma Watson e suas patéticas aulinhas baseadas em filosofias discutíveis.


O ponto frágil é que, ao retratar tão de perto o jogo de aparências e superficialidade, o filme se aproxima perigosamente daquilo que busca criticar. Com sua pegada muito pop e quase documental, o longa pode deixar um pouco a desejar para o espectador que se acostumou a ver camadas mais profundas na obra de Sofia Coppola. De qualquer modo, um filme seu sempre merece a nossa atenção. E este Bling Ring, mesmo não sendo seu melhor filme, ainda assim é obrigatório para quem acompanha cinema. 

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