quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Flores Raras


Delicadeza. Essa seria a melhor palavra para resumir muito sucintamente o novo filme de Bruno Barreto. Baseado no romance de Carmen Oliveira, Flores Raras e Banalíssimas, o longa acompanha os altos e baixos da história de amor entre a poetisa americana Elizabeth Bishop e a arquiteta brasileira Lota de Macedo Moraes. Querendo se encontrar na vida e na arte, Elizabeth (que futuramente viria a vencer um prêmio Pulitzer) deixa Nova Iorque e resolve ganhar o mundo. O que deveria ser uma curta estadia no Rio de Janeiro ganha ares definitivos à medida que ela se apaixona por Lota – com quem vivia até então sua amiga Mary.

Um dos pontos mais interessantes do filme está em sua sutileza. Não em relação ao tema, o que poderia ser confundido com excesso de pudor, mas sim na própria forma de contar a história, com um tom enxuto e uma surpreendente habilidade em evitar o melodrama ou qualquer forma de caricatura. A sobriedade da direção deixa espaço para as protagonistas brilharem, cada uma a seu modo. Gloria Pires, atuando em dois idiomas, é um furacão de energia como a decidida e empreendedora Lota. A idealizadora do Parque do Flamengo era uma mulher que se orgulhava de fazer tudo a seu modo e que encontrou na tímida e insegura poetisa seu grande amor, o que vai provocando mudanças graduais em seu modo de ser que são muito bem transmitidas pela atriz. Mais uma vez, sutileza é a palavra-chave. Já Miranda Otto é mais interiorizada e interpreta muito com os olhos, mas é igualmente competente na composição de uma personagem assustada e que luta para superar traumas profundos. O trabalho excepcional das atrizes fica ainda mais evidente na segunda metade, devido à inversão de papéis que começa a se insinuar entre elas. Vale destacar, ainda, a boa presença de Tracy Middendorf, a quem coube o ingrato papel de terceira da relação.


A fotografia deslumbrante e a direção de arte impecável dão um toque de classe e sofisticação ao filme. Talvez somente o contexto político pudesse ter sido um pouco mais delineado, considerando a proximidade de Lota com o ex-governador Carlos Lacerda e o fato de ambos terem sido a princípio favoráveis ao golpe militar. Contexto que, aliás, acabou sendo um dos fatores que contribuíram para a depressão sofrida pela personagem.

Aos que torcem por uma indicação ao Oscar do próximo ano, cabe esclarecer que o filme não poderia concorrer dentre os de língua estrangeira devido ao fato de ter parte considerável de seus diálogos em inglês. Restaria à produção investir no lançamento e divulgação do filme nos Estados Unidos e tentar, desse modo, emplacar em alguma categoria principal. Premiações à parte, Flores Raras é um desses momentos felizes do cinema nacional que não se deve perder.



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