sábado, 10 de agosto de 2013

Paolo Sorrentino fala sobre La Grande Bellezza


O cineasta Paolo Sorrentino (Il Divo, This Must Be the Place) concedeu à imprensa italiana essa interessante entrevista a respeito de seu filme mais recente, La Grande Bellezza. O filme, que esteve em competição no último festival de Cannes, já está em cartaz na Europa, mas ainda não tem uma data de estreia aqui no Brasil. Confiram a entrevista e acompanhem abaixo a tradução:



Jornalista – Qual foi o maior risco corrido com La Grande Bellezza: ser exagerado, presunçoso ou aquele que, a meu ver, é o risco mais interessante, que é o de ser sincero?

Paolo Sorrentino – Acho que todos os três: acredito que o risco seja de ser exagerado, presunçoso e também sincero. Os amigos me contam sobre reações violentas, tanto pelo lado positivo como negativo, então me parece que alguma forma de sinceridade deve haver; caso contrário, seriam inexplicáveis essas reações a um filme que fala de sentimentos e não de temas polêmicos. Quando fiz Il Divo esperava algum tipo de reação, mas não houve. Exceto por Pomicino (Paolo Pomicino, um dos políticos italianos retratados no filme), que fingiu se aborrecer, ninguém mais se chateou; neste, por incrível que pareça, tantos se chatearam, então deve ser um filme sincero, ao menos eu penso assim, outros podem achar que é uma falsidade, mas... sei lá. (...) Ele (o protagonista, o escritor Jep Gambardella) vê a normalidade como uma espécie de sonho indecifrável e quando se vê diante dela prova uma espécie de estupor arcaico. (...) Servillo (Toni Servillo, intérprete de Gambardella) é um ator notável, fantástico e, a meu ver, sempre surpreendente de formas novas; para mim, é muito fascinante trabalhar com ele porque há uma espécie de atmosfera familiar e confortável, mas não uma coisa de rotina porque ele sabe se reinventar.

Jornalista 
– Como nascem os seus personagens?

Paolo Sorrentino – Nascem como em um quebra-cabeça: se pode pegar pessoas reais e juntar duas ou três no mesmo personagem, outras coisas se inventa, se faz toda uma série de truques e estratagemas, tudo para chegar à tentativa de definir os contornos de um personagem.

Jornalista – Assim como Jep Gambardella, eu também tenho necessidade de saber o significado de conflitualidade entendida como vibração… ou o significado geral de vibração (acho que temos que ver o filme primeiro para entender essa pergunta).

Paolo Sorrentino – Isso você teria que perguntar à pessoa real que inspirou aquela entrevista, mas infelizmente não posso dizer quem é porque é alguém famoso. Não sei bem o que é uma vibração, portanto devo me abster de dizê-lo.

Jornalista – E então há Roma, que aqui é como uma bela mulher, misteriosa, fascinante, pela qual se sente muito atraído, mas de quem também se pode fugir...

Paolo Sorrentino – Esta é uma boa ideia, não tinha pensado em Roma como uma mulher… Bom, alguns fogem porque os homens claramente não entendem as mulheres, mas, no final das contas, eles ou ficam ou fogem, e alguns fogem, como o personagem de Verdone (Carlo Verdone).

Jornalista – A única coisa sobre Cannes que eu gostaria de perguntar é sobre a associação que foi feita com La Dolce Vita de Fellini, que, na verdade, não é tão doce assim em La Grande Bellezza: o que lhe aborreceu mais e o que lhe deu mais prazer quanto a isso? 

Paolo Sorrentino – Imagina. Qualquer referência, mesmo que vaga, a uma grande obra do cinema só me envaidece, desde que não se diga que eu quis fazer uma imitação, mas, como não creio que tenha sido dito nesse sentido, só posso ficar feliz. É muito simples, La Dolce Vita é uma obra-prima, um filme feito de modo feliz sob todos os aspectos; é um filme que pertence a um daqueles nomes que figura numa seletíssima lista de pessoas que faziam este trabalho em outro nível e, portanto, não pode haver realmente uma comparação. (...) Acho que era Carmelo Bene (ator, dramaturgo, diretor, escritor e poeta italiano) quem dizia "errando se ensina". Onde foi que eu errei? Bom, certamente devo ter cometido muitos erros, mas nesse aspecto eu tenho um bom temperamento porque os esqueço muito depressa.

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