terça-feira, 7 de abril de 2009

Delírios de Consumo de Becky Bloom


Depois de Bridget Jones e seus diários, mais uma adaptação cinematográfica da chamada “literatura mulherzinha” ganha os cinemas. Trata-se de Delírios de Consumo de Becky Bloom, primeiro dos cinco livros escritos pela inglesa Sophie Kinsella sobre a personagem que perde a linha diante de uma vitrine de loja.

Rebecca Bloomwood é uma jornalista que vive para fazer compras e não consegue resistir a uma liquidação. Endividada até a raiz dos cabelos e perseguida por cobradores, Becky tem que arrumar um emprego bem depressa quando a empresa onde trabalha fecha as portas. Embora seu sonho sempre tenha sido trabalhar em uma revista de moda, a necessidade e um providencial mal-entendido fazem com que ela vire colunista de uma revista de finanças. Sua total falta de intimidade com o assunto acaba transformando-a em sucesso, já que seus textos se destacam pelas observações divertidas e comparações inusitadas em um assunto que a grande maioria das pessoas acha chato ou incompreensível. Mas o que pensaria seu charmoso editor se descobrisse que Becky aconselha as finanças alheias, mas não consegue manter as suas sob controle?

Não tendo lido nenhum dos livros da série, não sei dizer até que ponto o longa foi fiel ao livro que lhe deu origem. Portanto, as observações a seguir dizem respeito estritamente ao que é mostrado na tela. E a Becky Bloom do filme me parece uma personagem excessivamente delirante, mesmo considerando o título em português da obra. Talvez por conta disso, a personagem não conquista pela identificação como, por exemplo, Bridget Jones e seus dilemas cotidianos de uma garota normal. Tampouco a trama se caracteriza por algum tipo de crítica ao consumismo descontrolado ou às esquisitices que gravitam em torno do mundo da moda, como faz O Diabo Veste Prada. Pelo contrário, o roteiro encara o desequilíbrio da protagonista (não tenham dúvidas, Becky é caso psiquiátrico) como algo engraçadinho ou até mesmo normal. Coisa de mulherzinha, enfim, aquele tipo de estereótipo que só reforça preconceitos sobre o chamado “mundo feminino”. E convenhamos: a moça compra tanto e nem consegue se vestir bem. Seria algum tipo de ironia ou escorregão da figurinista? Felizmente, Becky é interpretada pela simpática Isla Fisher, de Três Vezes Amor. A moça tem carisma, mesmo quando as atitudes de sua personagem são irritantes ou fazem pouco sentido.

O diretor australiano P. J. Hogan, que aportou em Hollywood graças ao estrondoso sucesso de O Casamento de Muriel e realizou nos States filmes bem legais como O Casamento do Meu Melhor Amigo e Peter Pan, escorrega justamente na capacidade de surpreender, qualidade presente nos trabalhos citados acima. Delírios de Consumo de Becky Bloom é extremamente previsível, deixando entrever todas as supostas viradas da trama bem antes que elas ocorram na tela. E não deixa de ser irônico que uma personagem que comete tantos desatinos seja tão previsível. E o desfecho... Bom, o desfecho nada mais é do que uma consequência do tom do filme até então. A brincadeirinha com os manequins, original na primeira vez que acontece, parece meio fora de tom no final, principalmente por conta da “mudança de postura” dos mesmos.

Não que o filme seja desagradável. Serve para matar o tempo, embora seja totalmente esquecível tão logo as luzes se acendem. Uma boa medida da época em que vivemos. Estréia sexta-feira.

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