segunda-feira, 13 de abril de 2009

Sete Homens e um Destino


Considerando o mercado cinematográfico atual em que remakes são feitos com o único objetivo de poupar o público americano de sua já conhecida preguiça de ler legendas, é sempre interessante relembrar refilmagens tão cheias de personalidade que se tornaram não menos reverenciadas do que a obra que lhes deu origem. Este certamente é o caso de Sete Homens e um Destino, versão americana do clássico japonês Os Sete Samurais, de Akira Kurosawa.

Realizado em 1960, apenas seis anos depois do original, o longa transpõe a trama do Japão feudal para o velho oeste. Numa pequena vila mexicana preto da fronteira com o Texas, os moradores são constantemente infernizados por um grupo de malfeitores liderados pelo implacável Calvera. O bando vive a saquear as provisões da cidade, deixando à população de pacatos e indefesos agricultores apenas o mínimo para a sobrevivência. Mesmo não tendo nenhuma disposição para a luta e contando com poucos recursos financeiros, um pequeno grupo resolve comprar armas para que possam se defender. Chegando à fronteira americana, conseguem mais do que imaginavam: ao conquistarem a simpatia de um misterioso pistoleiro, este reúne um grupo de sete homens dispostos a arriscarem suas vidas para defender o vilarejo.

Não que os “sete magníficos” sejam totalmente altruístas. Com exceção do personagem de Yul Brynner, cujas intenções permanecem sempre incógnitas, a maioria está ali por um motivo bem concreto. As razões variam entre precisar se esconder das autoridades, imaginar que o vilarejo tem alguma riqueza oculta, querer impressionar um ídolo ou até mesmo a mais simples das razões: se encontrar na maior das pindaíbas e achar que míseros vinte dólares naquele momento são muito.

Sete Homens e um Destino é um western singular. Em primeiro lugar, por não trazer nem o mais remoto vestígio da velha rivalidade entre brancos e índios. Ambientado no lado mexicano do velho oeste, o longa tem uma abordagem que toca mais em questões sociais do que de valentia ou bravura. A trama enfoca uma comunidade pacata sendo extorquida regularmente por um bandoleiro que chega ao desplante de se fingir de amiguinho – pelo menos enquanto não é contrariado. O mais interessante na situação é a covardia de uma parcela da cidade, que acha mais garantido continuar pagando pelo simples fato do malfeitor lhes deixar o suficiente para sobreviver, ainda que ele faça isso com a única intenção de que eles sobrevivam para continuar alimentando seu bando. Se enxergarmos longe, pode-se até ver uma metáfora do capitalismo selvagem na figura de Calvera e os tributos por ele exigidos.

Ainda que a disputa entre brancos e índios não esteja em voga, também o preconceito racial é criticado na excelente e clássica cena em que Chris e Vin, personagens de Yul Brynner e Steve McQueen, se conhecem. Um velho índio cai morto no meio da rua e um homem caridoso resolve pagar por seu enterro, mas o agente funerário tem medo de levar adiante seu serviço porque algumas pessoas acham que um indígena não pode ser enterrado ao lado dos brancos. Brynner (de preto, numa imagem associada a ele pelo resto de sua vida) surge e se oferece para levar a carruagem com o morto até o cemitério, a apenas poucos metros dali. McQueen senta-se a seu lado com uma espingarda, e todos ao redor prendem a respiração. A cena hipnótica, carregada de suspense e tensão, dá o tom do restante do filme, ou seja, um western que tem sua força mais na expectativa e na pressão psicológica do que nas poucas cenas de ação, já que grande parte da história é destinada primeiro à missão de recrutar o grupo e depois à preparação dos pistoleiros e dos habitantes para se defenderem do iminente ataque.

Podemos dizer que o longa é uma mescla de drama e suspense, ainda que concebido dentro da estrutura do faroeste clássico e pontuado por sequências de tiroteios e duelos. Mas, ao mesmo tempo em que tem essa visão menos “rápida no gatilho”, paradoxalmente o filme apresenta um estilo de direção seca e direta. John Sturges, mesmo diretor de Fugindo do Inferno, não busca a poesia visual de um Sergio Leone e tende a se concentrar mais em contar a história sem maiores requintes estéticos. Tal decisão faz com que o longa perca em estilo, mas ganhe em ritmo.

O elenco estelar é outro fator que vale destacar. Além dos já citados Yul Brynner e Steve McQueen, Eli Wallach arrasa como o terrível e sarcástico Calvera; Charles Bronson, antes de ter desejo de matar, tem nesse filme seu primeiro papel de destaque; ainda estão no elenco James Coburn e Robert Vaughn. Tampouco se pode deixar de mencionar a magnífica trilha sonora de Elmer Bernstein, indicada ao Oscar. A música-tema já foi tão largamente usada na propaganda e afins que hoje em dia seus acordes se transformaram em sinônimo do gênero western.

Ainda que tenham caído na besteira de realizar uma penca de sequências totalmente dispensáveis, nada pode apagar o fato de que Sete Homens e um Destino sempre permanecerá como um dos mais importantes westerns já realizados.

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