quarta-feira, 29 de abril de 2009

Recém-Chegada


Imaginem o seguinte argumento: uma executiva ambiciosa, que vive em Miami cercada de conforto e sofisticação, é enviada para um trabalho numa cidadezinha minúscula. A moça chega lá cheia de superioridade e afetação e logo entra em choque com a população local, em especial um certo morador rústico e charmoso (opinião dela, não minha). De posse desses dados, qualquer criança de cinco anos poderia terminar de escrever o roteiro de Recém-Chegada.

A personagem em questão é Lucy Hill. Ela está tão obcecada por uma promoção que quando seu chefe sugere enviar alguém para inspecionar uma fábrica no gélido estado de Minnesota, ela é a única a se oferecer. Logo no aeroporto, Lucy descobre que precisará trocar os saltos agulha por sapatos de neve. E que as pessoas ali não entenderão suas piadas nem seu estilo de vida. Para piorar, uma série de gafes faz com ela passe uma péssima primeira impressão para Ted, líder sindical com quem ela terá que negociar. Sim, o filme tentará fazer graça a partir das diferenças culturais. Sim, tentará passar uma lição pseudo-edificante sobre sentimentos como amizade e lealdade. E sim, com toda certeza, em determinado momento a executiva e o sindicalista cairão nos braços um do outro.

Curiosamente, a falta de criatividade é o menor dos problemas do longa. Um filme não necessariamente precisa ter um roteiro originalíssimo para ser bom. Grandes filmes partem de argumentos totalmente prosaicos. Mas é preciso compensar a falta de um enredo interessante com charme, frescor, ritmo, simpatia. Ou, pelo menos, uma boa química entre os protagonistas. E o longa não apresenta nada disso, o que transforma uma hora e meia de projeção em um grande tédio. O roteiro enfileira de modo burocrático e apático uma série de situações que você já viu melhor exploradas em uma infinidade de outros filmes. Exemplos? Lucy toma um porre, a arrogância vai por água abaixo e ela flerta com Ted. Outro exemplo? Ted tem uma filha adolescente desajeitada que está prestes a ir a seu primeiro baile. Quem poderá ajudá-la na hora do aperto?


Pior do que isso é o modo como o longa põe Lucy e Ted apaixonados sem nenhuma sutileza ou gradação. Em um momento, eles são inimigos; mas basta se olharem de longe no meio de uma procissão natalina (ou seja lá o que for aquilo) para já estarem caidinhos. É como se os próprios roteiristas capitulassem diante da previsibilidade do roteiro. “Como todo mundo já sabe que eles vão se envolver, não é preciso perder tempo aproximando-os”. Aliás, o fato deste filme ter dois roteiristas é outra coisa que me espanta. Por outro lado, situações que já nem eram engraçadas a princípio são interminavelmente esticadas, como o incidente com a blusa de Lucy ou as caipirices extremas da secretária Blanche.

Dá pena ver no que se tornou a carreira de Renée Zellweger. Apesar de ainda jovem, Renée parece estar em fim de linha e nem de longe lembra a atriz promissora que foi revelada em Jerry Maguire e a seguir conquistou o mundo como a confusa Bridget Jones e a corista espevitada de Chicago. Claro que não ajuda nada ter como par romântico Harry Connick Jr., o senhor sem-gracice em pessoa. Nem mesmo a presença de bons atores coadjuvantes como J.K Simmons, Frances Conroy e Siobhan Fallon ajuda a tirar o filme do buraco. A pá de cal é a trilha sonora óbvia, cafona e desagradável a sublinhar toda hora ao espectador que ele está perdendo seu precioso tempo. Estreante em Hollywood, o diretor dinamarquês Jonas Elmer começou muito mal sua carreira americana. Melhor sorte a ele da próxima vez.

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