quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Singularidades de uma Rapariga Loura


Macário trabalha como contador no armazém do seu tio Francisco e apaixona-se perdidamente por uma moça loura que vê todos os dias à janela da casa em frente. Através de um amigo, fica sabendo que a moça se chama Luisa Villaça e logo consegue aproximar-se dela e cortejá-la. Mas o tio não consente que Macário se case e o despede. Para conseguir desposar Luisa, Macário parte para Cabo Verde e enriquece. De volta a Lisboa, somente quando finalmente está para se casar e novamente às boas com seu tio, é que descobre as tais singularidades do título a respeito de sua noiva. Baseado em conto homônimo de Eça de Queiroz.

Um dos filmes mais esquisitos a que assisti neste Festival, e não digo isso no bom sentido. Desde o começo, um inexplicável artificialismo permeia a abordagem da história. Toda a trama é contada por Macário a uma senhora durante uma viagem de trem, e esta nunca olha para ele. A ponto de pensarmos que a personagem é cega, o que, como fica provado mais adiante, não é o caso. Grande parte do elenco interpreta de modo pouco convincente e farsesco, sem que isso pareça ser uma característica que ajude a destacar o filme de alguma forma. O personagem tio Francisco acaba arrancando risadas da platéia, e transformando suas cenas em comédia involuntária.

Mais do que tudo, me parece que foi uma péssima decisão do diretor Manoel de Oliveira tentar dar uma roupagem mais atualizada a uma trama tão datada. Os conflitos vividos por Macário não fazem sentido algum quando transpostos para tempos modernos. Fazer fortuna para poder ser digno de cortejar uma moça? Pedir permissão ao tio e patrão para se casar? E, mais que tudo, pedir em casamento uma moça com quem apenas algumas palavras foram trocadas? Isso tudo é totalmente século XIX, no máximo início de século XX. É inexplicável que um cineasta com a experiência de Oliveira não tenha se dado conta disso. E caso tenha percebido e realizado o filme assim mesmo, por pura teimosia, a decisão é ainda mais equivocada. Para completar, o ritmo arrastado e a total falta de um clímax fazem com que se possa considerar este longa como um dos mais aborrecidos vistos neste Festival.

Nota: 3,0

(Singularidades de uma Rapariga Loura, de Manoel de Oliveira. PORT/FRA/ESP, 2009. 63min. Panorama do Cinema Mundial)

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