quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Vigaristas


O pessoal que trabalha em áreas ligadas ao cinema geralmente desconfia quando um filme fica muito tempo rodando nas listas de “próximos lançamentos” e nunca estreia. Desconfia mais ainda quando o tal filme tem à frente do elenco três atores famosos, dois deles vencedores do Oscar. Pressupõe-se que um filme com grandes astros que fica engavetado só pode ser uma bomba. Era o que eu pensava de Vigaristas, impressão reforçada pela sinopse parecer um somatório de milhões de outras histórias que já vimos antes sobre uma dupla de estelionatários charmosos e inteligentes. Mas não é que o filme tem mais a oferecer do que parece?

Desde muito pequenos, os irmãos Stephen e Bloom tiveram que se virar e contar apenas um com o outro. Órfãos, passaram por muitas famílias adotivas e foram devolvidos por todas. Stephen, desde criança, sempre criou mirabolantes e intrincados esquemas para tirar vantagem das pessoas. Bloom nunca teve alternativa senão segui-lo, e os dois passaram a vida desempenhando os papéis que Stephen criou para cada um deles, a cada nova falcatrua. Stephen não se limita a enganar as pessoas, ele acredita que para que um golpe seja realmente perfeito, cada um tem que conseguir o que deseja. Eles, vantagens financeiras; o ludibriado, uma aventura inesquecível. Só há um porém nesta teoria: Bloom ainda não conseguiu o que mais deseja, que é ter uma vida que não tenha sido escrita pelo irmão. Mas ele aceita tomar parte em um último embuste e se dispõe a seduzir Penelope, uma moça solitária, entediada... e muito rica.


Na superfície, realmente Vigaristas é mais do mesmo. Estão em cena todos os elementos de filmes do gênero, tais como a dupla formada por um espertinho e expansivo em contraponto com o outro mais pacato e questionador, que entra em conflito com o comparsa por estar cansado daquela vida; a mocinha espirituosa que joga lenha na fogueira da dupla, e invariavelmente se interessa pelo herói romântico; as tramóias bem urdidas; os cenários exóticos; o desafeto antigo que vem complicar a vida dos protagonistas; as muitas idas, vindas e reviravoltas. A diferença é que neste filme, devido a seu caráter ultrametalinguístico, todos os lugares-comuns se tornam referências a um tipo de trama que encontra ecos desde em clássicos como Golpe de Mestre até referências mais recentes como Os Safados e o quase homônimo Os Vigaristas.

O diretor e roteirista Rian Johnson constrói a sua trama em torno de uma celebração ao ato de contar histórias. Stephen não apenas roteiriza seus golpes, mas também cria personagens, identidades, clímax, enfim, todo um mundo imaginado que remete ao próprio universo do cinema como fábrica de sonhos. O único problema é que o roteiro acaba ficando refém de sua própria estrutura Sherazzade. Stephen se dispõe a escrever a história perfeita, definitiva, criando um mecanismo de trama dentro da trama que por vezes acaba por engessar um pouco o filme como um todo. Por outro lado, ao utilizar-se desse artifício, ele também cria um dispositivo de proteção que faz com que qualquer exagero ou incoerência na história possa ser facilmente perdoado.

Outro fator que faz toda a diferença é o brilho e carisma do elenco. Adrien Brody, ótimo ator, está perfeito como o anti-herói trágico arrastado a contragosto para uma vida de crimes; Rachel Weisz, sempre um encanto em cena, dá perspicácia e inteligência a uma personagem que poderia parecer tola se interpretada de modo pouco habilidoso. E Rinko Kikuchi é simplesmente um barato no papel da perita em explosivos Bang-Bang, que faz graça praticamente sem abrir a boca. Mas a grande atração é o charme que Mark Ruffalo empresta ao inteligentíssimo e criativo Stephen Bloom. Ruffalo tem se mostrado um ator muito surpreendente nos últimos anos. Já seu personagem poderia ter feito fortuna como roteirista em Hollywood, caso não tivesse dedicado sua imaginação a fins menos nobres.


Por fim, uma dúvida paira no ar: se eles são, conforme o título original, os irmãos Bloom, qual é o primeiro nome do Bloom de Adrien Brody?

Estreia sexta.

6 comentários:

  1. Eu gosto de filmes dessa linha e em breve assistirei "Vigaristas". O elenco, com exceção da Rachel Weisz (Brrr!), é muito bom!

    E sobre a sua observação final... bem, não tenho a mínima ideia. Só sei que este filme do Rian Johnson, na verdade, era para se chamar "Penelope", mas entrou em conflito com aquele filme com a Christina Ricci e Reese Witherspoon.

    Beijos!

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  2. Parece que eles quiseram fazer alguma brincadeira com a Odisséia... Mas, ainda assim, é estranho o cara não ter um primeiro nome...

    Como assim, "Brrr!"?

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  3. Erika, eu DETESTO a Rachel Weisz! Tenho dor de cabeça só de vê-la em cena!

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  4. Não sei se chego a ser fã... Mas você há de convir que provavelmente pouquíssimas pessoas diriam que a detestam...

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