quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Fama


O que torna um filme clássico geralmente vai além de seus méritos puramente cinematográficos: alguns derrubam preconceitos, outros apresentam um novo estilo de fazer cinema, outros trazem atuações inesquecíveis. Existem, ainda, aqueles que sobrevivem na memória coletiva por terem, de alguma forma, se tornado icônicos para uma geração. Quem era criança ou adolescente na década de 80 certamente tem um carinho especial por filmes como Os Goonies, Caçadores de Arca Perdida e De Volta para o Futuro – ou até mesmo fitas mais toscas, como Procura-se Susan Desesperadamente ou Rambo. Por isso pessoas de gerações diferentes às vezes não entendem muito bem os filmes de coração umas das outras, já que não os assistiram dentro do mesmo contexto.

Fama, filme realizado em 1980 por Alan Parker, foi um sucesso tão estrondoso que chegou a gerar uma série de TV. A música-tema Fame (aquela do I'm gonna live forever, I'm gonna learn how to fly) ganhou um Oscar e um Globo de Ouro e até hoje faz a alegria dos nostálgicos nas pistas de dança. A trama, simplérrima, acompanhava o dia-a-dia de um grupo de alunos da New York High School of Performing Arts, da primeira audição à formatura. Entremeando os números musicais, amores, decepções, esperanças, inseguranças e, sobretudo, o desejo de superar as próprias limitações e alcançar o estrelato. Com uma trilha sonora vibrante e uma pegada romântica, o filme fez a cabeça de toda uma geração. E agora resolveram fazer um remake dele. Uma ideia que, de cara, já não parece boa.

Para começo de conversa, existe algo de muito errado em um musical quando o espectador só sente a característica vontade de cantar, dançar ou apenas bater os pés no chão ao ritmo da música durante os créditos finais. E, mesmo assim, a empolgação é mais por finalmente matar as saudades da canção Fame do que por qualquer mérito deste filme em si. Fama, para um musical, tem poucos números musicais e nenhum que chegue a empolgar. Isso não seria um problema se a parte dramatúrgica suprisse essa lacuna, mas não é o que acontece. O filme acaba sendo um enfileirado de cenas mornas e conflitos bobos que pouco ou nada evoluem até a grande sequência da apresentação de formatura. Ou seja, o filme só começa a ganhar gás quando está para acabar.

O roteiro é frouxo e comete elipses inexplicáveis no relacionamento entre os personagens secundários, que viram amigos sem que se perceba quando aconteceu a aproximação. O exemplo mais gritante disso é o romance entre Alice e Victor: em uma cena eles ainda nem se falam; em outra, estão juntos diante dos olhares atônitos dos pais da moça e do espectador. Mesmo os personagens centrais são pessimamente delineados. De Marco apenas se sabe que sua família possui um restaurante; de Jenny, que é obcecada em ser boa aluna; somente a história da pianista Denise possui um pouco mais de consistência.


O elenco, como um todo, é insosso, com exceção dos simpáticos Asher Book (Marco) e Naturi Naughton (Denise). Ambos tem boa presença e boas vozes, mas não conseguem levar nas costas o filme inteiro, mesmo porque o roteiro dá um peso desproporcional à apática Jenny de Kay Panabaker. Já Megan Mullally – a Karen de Will & Grace – não podia estar mais caricata como a professora Rowan. Uma cena especialmente esquisita é quando ela vai a um karaokê com os alunos e se esgoela ao microfone enquanto os pupilos acham sua performance sensacional. Para os meus pobres ouvidos leigos, a professora não me pareceu nada afinada... Mas sei lá. Vai ver eu que não entendo nada de música.

O diretor Kevin Tancharoen faz sua estréia na telona com este filme. Seus créditos anteriores são todos relacionados à televisão, incluindo uma série musical feita para a MTV. Podemos dizer que o rapaz começou com o pé errado na sétima arte. Vamos apenas esperar para que esse Fama seja um fenômeno isolado e que não prenuncie novas versões de Flashdance ou Dirty Dancing. Estreia nesta sexta.

2 comentários:

  1. Erika, ainda não assisti o "Fama" original (tenho o VHS guardado na prateleira bonitinho), mas aproveitarei o gancho desse remake para tentar vê-lo nos próximos dias. Já esta versão, não tenho interesse algum em assistir. Pela impressão que tive ao ler o seu texto, não deve passar de uma bobagem repleta de conflitos teens tolinhos. Ao menos tem a Bebe Neuwirth, uma atriz que gosto por causa de "Tadpole".

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  2. Ela é a professora de dança, mas tem participação pequena na trama. Não valeria a pena ver por causa dela...

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