terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Django Livre



O enfant terrible de Hollywood está de volta, e em grande forma! Depois de se consagrar com suas tramas espertas, violentas e cheias de referências à cultura pop, Quentin Tarantino vem trilhando um caminho mais ambicioso que começou com as duas partes de Kill Bill (2003/2004) e se solidificou com Bastardos Inglórios (2009). Porém a maturidade só agora foi plenamente alcançada: Kill Bill, apesar dos momentos memoráveis, ainda era bastante desnivelado no todo e Bastardos Inglórios acabou se mostrando um ótimo filme, mas que não carregava muito a marca de Tarantino. Com este Django Livre, o cineasta atinge o melhor de dois mundos: ao mesmo tempo em que é um filme grandioso e bem-cuidado, o longa também consegue manter todo o charme de “filme B”, deboche e autoironia que consagraram o cineasta como um dos mais criativos das últimas décadas.   

Se em Kill Bill o gênero reverenciado era o dos filmes de luta asiáticos e em Bastardos Inglórios o dos dramas de guerra, agora Tarantino volta suas lentes para o mais americano dos gêneros, o western. O que, por si só, já seria um prato cheio para os diálogos ácidos e as sequências espetaculares tão caras ao cineasta, mas aqui ele vai além, entregando um longa realmente apaixonante, onde a ação e a aventura então intimamente ligadas ao sarcasmo e a uma refinada crítica social que faz pensar se os Estados Unidos teriam mudado tanto assim desde os tempos da escravatura ou somente diversificado o foco da perseguição.


A trama se passa no velho oeste americano, dois anos antes da abolição da escravatura. King Schultz, dentista alemão que virou caçador de recompensas, compra o escravo Django para que este o ajude a identificar três bandidos que ele deve encontrar, prometendo libertá-lo uma vez concluído o negócio. Como Django é muito bom de mira, logo os dois viram parceiros de trabalho e a liberalidade do alemão, que trata um ex-escravo como seu igual, escandaliza todos por onde passam. Mas Django tem um único objetivo em mente: quer encontrar a esposa, que foi vendida por seu antigo senhor e agora é propriedade de um rico fazendeiro sem escrúpulos.

O nome do personagem-título é em homenagem a Django, western italiano de 1966 protagonizado por Franco Nero, que, aliás, faz uma participação neste filme. Outra aparição interessante é a do próprio Tarantino, numa cena que rende boas risadas. O elenco é um dos muitos pontos altos do filme, trazendo Jamie Foxx na primeira atuação realmente bacana desde que ganhou o Oscar com Ray em 2005. Já o austríaco Christoph Waltz é novamente responsável em conduzir uma empolgante sequência de abertura tarantinesca. E se o seu personagem ainda retém algumas coisas do caçador de judeus de Bastardos Inglórios, não se pode culpar o ator por tentar recriar o que deu certo (Waltz ganhou o Oscar e o Globo de Ouro de melhor ator coadjuvante em 2010 e foi novamente indicado este ano, já tendo vencido o Globo de Ouro no último domingo). O que importa é que sua interpretação é, mais uma vez, impagável. Também estão ótimos Leonardo DiCaprio e Samuel L. Jackson, este último irreconhecível.


Django Livre é um caldeirão de aventura, bom humor, sangue e suor. Uma mistura bem dosada de cinemão e irreverência. Referencial e original ao mesmo tempo. Resumindo, Tarantino não entregava um produto tão delicioso assim desde Pulp Fiction. O filme foi vencedor de dois Globos de Ouro (melhor roteiro e melhor ator coadjuvante) e obteve cinco indicações ao Oscar – merecia mais, considerando que a sua direção brilhante foi injustamente esquecida.

Sexta nos cinemas.

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