quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Os Miseráveis



O melhor adjetivo para Os Miseráveis é “grandioso”. O projeto é baseado no musical da Broadway que é sucesso há mais de vinte anos, que, por sua vez, vem de um musical francês que foi inspirado no eterno clássico da literatura de Victor Hugo, culminando nesta produção bastante ambiciosa e cheia de superlativos. O filme opta, ainda, pela arriscadíssima proposta de ter quase todas as suas falas cantadas, apresentando pouquíssimos diálogos de forma convencional. Mas não é que a perigosa proposta operística, mesmo com alguns problemas de elenco e ritmo, consegue cumprir as expectativas?


O primeiro grande trunfo de Os Miseráveis é contar com o multitalentoso Hugh Jackman à frente do elenco. O ator é uma força da natureza, com sua interpretação segura e visceral do fugitivo de bom coração Jean Valjean. Outro acerto inquestionável foi a escalação de Anne Hathaway como Fantine. A atriz, favorita ao Oscar de coadjuvante deste ano, faz com que sua participação relativamente pequena seja inesquecível. Um dos momentos mais emocionantes de todo o filme é uma longa cena que tem simplesmente o rosto de Anne em destaque enquanto ela canta com a voz embargada pelas lágrimas. O alívio cômico fica por conta de Helena Bonham Carter e Sacha Baron Cohen como um criativo casal de trambiqueiros. Destaque também para os novatos Samantha Barks (Éponine) e Daniel Huttlestone (Gavroche), que provam que o talento transparece mesmo em pequenos papéis.


A orientação dada aos atores foi de buscar mais a emoção do personagem e menos o virtuosismo, tanto que as canções foram gravadas no set, ao vivo, quando o normal nesses casos é gravar a trilha em separado com todos os recursos de um estúdio. Alguns atores entenderam isso e colocaram a voz a serviço do personagem, como foi o caso de Hugh Jackman e Anne Hathaway. Já outros pareciam pouco à vontade – caso de Russell Crowe – ou tentavam bancar os cantores, impostando a voz e contrariando a proposta do filme, caso de Eddie Redmayne e Amanda Seyfried. Talvez por isso o ritmo do filme decaia um pouco na segunda metade, em contraste com uma primeira parte que beirava a perfeição. Aliás, a trama perde um pouco de sua força quando deixa em segundo plano o conflito pessoal de Jean e do inspetor Javert para dar espaço aos jovens revolucionários.


O diretor Tom Hooper vem do oscarizado O Discurso do Rei, um filme muito bem-realizado e com um roteiro redondo, mas talvez um pouco arrumadinho demais. O que se percebe é que Hooper se arriscou muito mais neste Os Miseráveis. Se o resultado final é um pouco irregular, o saldo ainda assim é definitivamente positivo. Afinal de contas, é um filme que, quando acerta, entrega momentos de pura poesia, superando suas falhas com incontáveis qualidades. É um filme realizado com paixão, e a vibração causada pela paixão é sempre bela e contagiante.

Os Miseráveis venceu três Globos de Ouro (filme musical/comédia, ator e atriz coadjuvante) e concorre a oito Oscars. Pelo menos o de Anne Hathaway me parece vitória certa. 

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