domingo, 6 de abril de 2014

Um papo com diretor e elenco de Hoje Eu Quero Voltar Sozinho


Guardem esse nome: Daniel Ribeiro. O diretor paulista estreia seu primeiro longa-metragem já trazendo na bagagem dois prêmios no Festival de Berlim. Hoje Eu Quero Voltar Sozinho é a versão longa do curta de 2010 Eu Não Quero Voltar Sozinho, um verdadeiro fenômeno na internet que alcançou quase três milhões de visualizações no YouTube. Ambos os filmes contam a história de um adolescente cego e sua descoberta da sexualidade, despertada pela chegada de um novo colega na escola. O A&S participou de uma mesa-redonda com Daniel e com os três jovens que estrelam as duas versões da trama – Guilherme Lobo, Fabio Audi e Tess Amorim. Abrimos o debate com uma pergunta para Daniel ao estilo “o ovo ou a galinha”: afinal de contas, a intenção era fazer um longa desde o princípio ou a ideia teria surgido depois, com o sucesso do curta?

“Eu sempre quis fazer um longa-metragem, mas eu só tinha feito antes outro curta (Café com Leite, 2007). Então, até mesmo por questões de financiamento, eu achei que seria mais fácil experimentar o curta primeiro, mesmo porque eu queria trabalhar com atores jovens e não teria nenhum nome famoso no elenco.”

Sobre a premiação em Berlim (o filme venceu os prêmios FIPRESCI e Teddy), Daniel confessa que a equipe partiu para o Festival sem grandes expectativas, pois já estavam todos felizes pelo simples fato do filme ter sido selecionado para um festival tão importante: “Foi uma grande surpresa, mas com a gente as coisas têm acontecido assim, um passinho de cada vez. Claro que, depois de Berlim, muita gente se interessou pelo filme e isso facilitou o lançamento”.

Um ponto que chama a atenção é a extrema sensibilidade com que a história trata a descoberta da homossexualidade. O diretor explica que quis mostrar um romance entre dois meninos com o máximo de naturalidade e evitar o modo exótico como personagens gays vêm sendo retratados na dramaturgia nacional. “Não é que aquele tipo de personagem também não exista, mas as pessoas não são somente de um jeito. A mesma coisa acontece com os cegos. Não existe regra, cada um lida com a sexualidade ou com a deficiência visual de modo diverso, então isso deu muita liberdade ao filme.”

Da esquerda para a direita: Fabio Audi, Guilherme Lobo, Daniel Ribeiro e Tess Amorim

Perguntados sobre eventuais preconceitos que teriam sofrido, os jovens atores afirmaram que isso não aconteceu. “Até minha avó, que é conservadora e de outra época, veio me dizer que achou bonito e delicado”, brincou Fabio. “Acho que o tema ser tratado de forma tão delicada cativou muito as pessoas, a delicadeza ajuda a combater o preconceito”, completou Tess.

Ao lado das descobertas sexuais e dos dramas próprios da adolescência, também a deficiência visual é abordada na trama de modo naturalista. Guilherme Lobo, que interpreta o personagem cego, contou que, já na época do curta, aprendeu a ler em braille e que só precisou retomar a técnica para o longa. Já o olhar vago que ele utiliza no filme nasceu de uma criação totalmente sua. No que Daniel acrescentou: “Inclusive ele chegou para o teste do curta com esse olhar já definido e eu achei ótimo, porque essa era uma questão que me preocupava muito a princípio. Logo de cara, estava resolvido o maior problema do filme”.  

Ainda sobre a abordagem suave mesmo dos conflitos, é Daniel Ribeiro quem conclui: “Claro que algumas cenas são um pouco idealizadas, afinal de contas é cinema. Mas eu acho que aquele é um mundo possível, mesmo que não seja tão preso ao real. No final das contas, acho que é isso que dá esperança às pessoas”.

Hoje Eu Quero Voltar Sozinho estreia em circuito nacional na próxima sexta-feira. Clique aqui para ler sobre o filme.


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