quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

O Lobisomem


Refilmagem do clássico de 1941 que imortalizou Lon Chaney Jr. no papel, esta nova versão de O Lobisomem mantém os personagens centrais da história, embora mude vários detalhes. Benicio Del Toro é Lawrence Talbot, aristocrata inglês que retorna à mansão da família quando recebe uma carta da noiva de seu irmão Ben reportando o desaparecimento deste. Chegando ao vilarejo de Blackmoor, Lawrence fica sabendo que o corpo de Ben fora encontrado mutilado, e que ele não foi o primeiro da localidade a ser morto em circunstâncias misteriosas. Lawrence resolve ficar até descobrir o que está ocorrendo, apesar dos sentimentos negativos que a casa da família e a figura do pai lhe despertam.

O Lobisomem é um filme estranho. Visualmente, é fascinante. Direção de arte perfeita, maquiagem idem, fotografia linda, figurinos classudos, enfim, um primor estético. Como filme, tem sua credibilidade bastante atravancada por um roteiro meio esquizofrênico e interpretações fora do tom. Benicio Del Toro, com seu inquestionável talento e seus grandes olhos profundos, confere uma boa dose de mistério e fascínio ao atormentado personagem. O ator reveste Lawrence de uma aura gótica que lhe cai muito bem, além de ter um biotipo que torna bastante convincente sua caracterização como lobisomem. Sua presença é o grande trunfo do elenco, embora também tenha sido acertada a escolha de Emily Blunt para a mocinha Gwen. Pena que não se possa dizer o mesmo de Anthony Hopkins, que passa a nítida impressão de estar atuando da má-vontade, com um tom que oscila entre o apático e o canastrão. Igualmente preguiçosa é a interpretação de Hugo Weaving, que se limita a fazer caretas.


A falta de qualquer resquício de humor no roteiro também é uma opção arriscada, já que ajuda a evidenciar as deficiências da história. Resumindo, o filme toma o perigoso rumo de se levar a sério, muito a sério, e acaba não tendo o gabarito necessário para isso. É verdade que as seqüências com a criatura são arrepiantes – mérito do fera Rick Baker – e a ambientação na Era Vitoriana por si só já cria um tremendo climão, realçado ainda mais por todos os bons recursos visuais citados. Também é ótima a decisão de conceber o lobisomem como uma fera com características mais humanas, o que o deixa bem mais ameaçador do que se fosse apenas um lobo grande. Em tempos dos lobinhos camaradas da série Crepúsculo, é reconfortante voltar a ver um monstro para valer. Mas, infelizmente, o roteiro capenga e os equívocos da direção botam por água abaixo os acertos técnicos.

O resultado é um filme irregular, especialmente em termos de ritmo e desenvolvimento da trama. Começa bem, sombrio, cheio de mistério, e vai se atrapalhando no seu desenrolar, até resultar numa inusitada mescla de horror clássico com tomadas sangrentas, à moda gore. A certa altura, o que se vê na tela passa a nítida impressão de que o diretor Joe Johnston resolveu jogar a trama para o espaço e investir em sustos fáceis. Daí até o desfecho sem sal, o longa vai perdendo muito do charme inicial. Provavelmente essa salada de estilos é resultante das inúmeras mudanças que ocorreram desde o início das filmagens. Diretor, roteirista, montador, quase tudo no filme passou por substituições de 2008 para cá. Um filme mexido, remexido e com prazos esgotados não poderia mesmo apresentar um resultado uniforme. Em certas passagens, se pode até sentir o potencial de um filme que poderia ter sido um excelente terror à moda antiga, a exemplo do que Coppola fez em seu Drácula de Bram Stoker. Mas não rolou. Pena.

2 comentários:

  1. "O caminho que trilhaste foi espinhoso, embora não por tua própria culpa. Como a chuva entra no solo, o rio corre para o mar, as lágrimas correm para o fim predestinado. Teu sofrimento acabou, agora vai achar paz pela eternidade."

    Me lembro que ficava toda hora irritado quando a cigana do filme original repetia esse verso. Ela aparece nesta refilmagem? Rs.

    Enfim, não daria para esperar um trabalho menos que primoroso tendo nos créditos um nome como Rick Baker, mas também acredito que não daria para esperar por um filme que não fosse decepcionante tamanho os desacordos durante as filmagens e na ilha de edição. Não verei nos cinemas.

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  2. Aparece sim, Alex. Geraldine Chaplin em mais um papel freak...

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