sábado, 27 de fevereiro de 2010

Simplesmente Complicado


Não tem figura que uma mulher odeie mais do que a amante de seu marido, certo? A esposa habitualmente despeja a culpa integral do fim de seu casamento na tal “vagabunda” que virou a cabeça de seu querido e inocente cônjuge. Normal. Mas e se esta mesma mulher se tornasse justamente aquilo que tanto desprezava, ou seja, a amante? E pior, do seu ex-marido? É essa situação curiosa que a comédia Simplesmente Complicado leva para as telas.

Jane e Jake Adler estão separados há mais de dez anos. Após tanto tempo, a convivência entre os dois é amistosa, embora Jane ainda se incomode com a presença de Agness – a amante mais jovem elevada ao posto de esposa. Com três filhos criados e dona de seu próprio negócio, Jane não mais coloca um novo relacionamento entre suas prioridades de vida. Ainda mais agora, que fará em casa a reforma com a qual sonha há anos e terá uma cozinha enorme e apenas uma pia, só para ela, no banheiro. Mas tudo muda numa viagem em comemoração à formatura do filho caçula: Jane e Jake acabam sozinhos no bar do hotel, tomam um porre, relembram os velhos tempos... e acordam na mesma cama.

Simplesmente Complicado é um típico longa de Nancy Meyers, com tudo que isso acarreta. A diretora defende uma tese constante em seus trabalhos, a de que a vida pode ser sexualmente interessante na meia-idade. Até aí, tudo bem. O problema é que o modo como ela expõe seu ponto de vista, embora pareça uma defesa da liberdade feminina, também tem um viés retrógrado. A exemplo do que ocorria em Do Que as Mulheres Gostam e Alguém Tem que Ceder, os filmes de Meyers enfocam mulheres que supostamente curtem sua liberdade e dão a volta por cima após penarem com a insensibilidade dos homens. Mas a alegria volta realmente às suas vidas quando surge um novo amor (ou ressurge um velho, neste caso), como se a felicidade só fosse possível ao lado de outra pessoa. Contraditório, não?

Não que isso chegue a ser um entrave para curtir o filme. Simplesmente Complicado diverte, e bastante, graças ao seu afinadíssimo elenco e à boa química entre Meryl Streep e Alec Baldwin. Meryl tem atuação profunda, sincera e divertida na medida certa e, na minha opinião, merecia a indicação ao Oscar por esta interpretação ao invés da que recebeu por Julie & Julia. Alec Baldwin, quem diria, aprendeu ao longo das décadas a se levar menos a sério e se tornou um ótimo comediante. John Krasinski também consegue driblar a seu favor os exageros de seu papel e confere simpatia ao seu pouco crível personagem. Já Steve Martin tem a missão mais difícil, por ser o introvertido em meio a uma turma histriônica.

O filme não tenta inventar muito e tira partido de situações de comicidade líquida e certa, como as manobras que o casal faz para esconder o caso dos filhos, assim como a esperteza de Jake em usá-los a seu favor quando sente que está perdendo terreno para o arquiteto interpretado por Steve Martin. A sequência do baseado, embora exagerada, também rende boas risadas. Mas como diretora, Nancy Meyers é tímida, tanto em termos de enquadramentos quanto de edição e o resultado é um filme tecnicamente careta, quadradinho, que acaba tendo seu grande diferencial no elenco mesmo. São os atores que mantêm o ritmo sempre lá em cima e garantem a satisfação ao fim da projeção.

Um comentário:

  1. Eu gostei muito de "Alguém tem que Ceder" e quero ver este filme justamente por ele reunir novamente um casal de "velhinhos" como protagonistas. Mas eu tenho que admitir que essa situação na qual o filme se desdobra é mesmo bem curiosa.

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