Provavelmente eu sou uma das raras frequentadoras do Festival do Rio que não achou Eu Matei Minha Mãe, trabalho anterior de Xavier Dolan, essa cocada toda. OK, o filme tinha seus pontos interessantes e deixou claro que era preciso ficar de olho nesse garoto que, aos 20 anos, escreveu, dirigiu e interpretou um filme tão vigoroso, mas, ainda assim, não achei que estávamos diante de nenhuma obra-prima. Com este segundo filme, Amores Imaginários, o jovem cineasta continua não tendo feito uma obra-prima, mas demonstra o quanto amadureceu em apenas um ano e deixa claro que de fato tem futuro na sétima arte. Um exemplo disso são as tomadas e ângulos diferenciados do filme, que mostram que o mocinho andou estudando certos cineastas mais autorais.
Dolan interpreta Francis, jovem homossexual obcecado pelo visual de James Dean e amigo inseparável de Marie, que gosta de usar roupas e penteados dos anos 50. A amizade até então inabalável dos dois é posta à prova quando ambos se interessam pelo charmoso e escorregadio Nicolas, que alimenta as fantasias de ambos. Como três é demais, logo Francis e Marie entram numa perigosa disputa pela atenção de seu objeto de desejo.
A primeira coisa a chamar atenção no filme é seu humor perspicaz e ácido sobre os relacionamentos. A trama central é intercalada com depoimentos de alguns jovens falando sobre seus dramas sentimentais e as falas são tão verdadeiras e bem escritas que parecem documentais – destaque para a menina de cabelos pretos e óculos, responsável pelos melhores momentos. O único problema é que essas inserções dão uma quebrada no ritmo do filme, “tirando” o espectador de dentro de história de Francis e Marie, e soam um pouco gratuitas em relação ao restante.
Quanto à trama em si, apesar do tom divertido e leve, o filme também faz um doloroso painel da rejeição. Francis e Marie são os que os americanos chamariam de loosers, e pessoas como eles são sempre abusadas de algum modo por pessoas como o personagem Nicolas, tão habituado a ter todos gravitando em torno de si que não consegue ter o mínimo respeito pelo sentimento alheio. Mas o que poderia ser um filme triste e pesado, Xavier Dolan embala numa aura tão vintage quanto o penteado à Audrey Hepburn de Marie e a canção italiana que sempre se repete quando os protagonistas estão num momento feliz e sonhador.
Amores Imaginários foi exibido no Festival do Rio do ano passado.
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