sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Amores Imaginários


Provavelmente eu sou uma das raras frequentadoras do Festival do Rio que não achou Eu Matei Minha Mãe, trabalho anterior de Xavier Dolan, essa cocada toda. OK, o filme tinha seus pontos interessantes e deixou claro que era preciso ficar de olho nesse garoto que, aos 20 anos, escreveu, dirigiu e interpretou um filme tão vigoroso, mas, ainda assim, não achei que estávamos diante de nenhuma obra-prima. Com este segundo filme, Amores Imaginários, o jovem cineasta continua não tendo feito uma obra-prima, mas demonstra o quanto amadureceu em apenas um ano e deixa claro que de fato tem futuro na sétima arte. Um exemplo disso são as tomadas e ângulos diferenciados do filme, que mostram que o mocinho andou estudando certos cineastas mais autorais.

Dolan interpreta Francis, jovem homossexual obcecado pelo visual de James Dean e amigo inseparável de Marie, que gosta de usar roupas e penteados dos anos 50. A amizade até então inabalável dos dois é posta à prova quando ambos se interessam pelo charmoso e escorregadio Nicolas, que alimenta as fantasias de ambos. Como três é demais, logo Francis e Marie entram numa perigosa disputa pela atenção de seu objeto de desejo.

A primeira coisa a chamar atenção no filme é seu humor perspicaz e ácido sobre os relacionamentos. A trama central é intercalada com depoimentos de alguns jovens falando sobre seus dramas sentimentais e as falas são tão verdadeiras e bem escritas que parecem documentais – destaque para a menina de cabelos pretos e óculos, responsável pelos melhores momentos. O único problema é que essas inserções dão uma quebrada no ritmo do filme, “tirando” o espectador de dentro de história de Francis e Marie, e soam um pouco gratuitas em relação ao restante.

Quanto à trama em si, apesar do tom divertido e leve, o filme também faz um doloroso painel da rejeição. Francis e Marie são os que os americanos chamariam de loosers, e pessoas como eles são sempre abusadas de algum modo por pessoas como o personagem Nicolas, tão habituado a ter todos gravitando em torno de si que não consegue ter o mínimo respeito pelo sentimento alheio. Mas o que poderia ser um filme triste e pesado, Xavier Dolan embala numa aura tão vintage quanto o penteado à Audrey Hepburn de Marie e a canção italiana que sempre se repete quando os protagonistas estão num momento feliz e sonhador.

Amores Imaginários foi exibido no Festival do Rio do ano passado.

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