sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Obituário Ideal


Depois de uma pequena temporada no Sesc Copacabana reestreou ontem na Casa de Cultura Laura Alvim o espetáculo Obituário Ideal, escrito, co-dirigido e interpretado pelo talentoso Rodrigo Nogueira (já indicado ao prêmio Shell anteriormente por Play). O texto parte da solução nada convencional que um casal de trinta e poucos anos encontra para driblar o tédio existencial e a rotina: frequentar enterros de desconhecidos e, desse modo, conseguir extrair de si mesmos emoções verdadeiras e profundas. A esposa (vivida por Maria Maya) é enfermeira e ele, professor de matemática. Ambos levam uma vida confortável, moram em uma casa arrumadinha e usam roupas impecáveis, enfim, parecem um casal de comercial de margarina. Mas alguma ausência os corrói por dentro, o que faz com que iniciem esse passatempo, que logo se transforma em um vício como outro qualquer. Antes que perceba, o casal passa a negligenciar tudo o mais em busca do enterro mais triste, da morte mais sinistra, da maior emoção, do obituário perfeito.

A televisão onipresente que anuncia tragédias e mantém-se ligada como trilha sonora incidental durante toda a peça é uma solução bastante criativa e que torna a trama ainda mais rica com suas intervenções bizarras. Narrado por Maria Beltrão, o noticiário faz rir nas horas mais inusitadas com sua profusão de membros esquartejados, personalidades midiáticas assassinadas e todo tipo de desgraça, levando também o espectador à sensação – familiar aos protagonistas – de ficar indiferente diante do trágico. O único senão é que a gravação por vezes abafa um pouco a voz dos atores, problema que certamente só deve atingir os que estiverem sentados mais para o fundo do teatro (que foi o meu caso).

O texto, repleto de humor negro e pérolas como “morte de velho não emociona” ou “em enterro de rico eles metem aqueles óculos escuros enormes e ninguém chora”, é redondinho e bastante divertido, além de ser muito bem interpretado pelos atores. Maria Maya e Rodrigo Nogueira demonstram ótima química e muito entrosamento em cena, o que faz com que o espetáculo ganhe um ar descontraído e um ritmo ágil. Também a direção leve de Rodrigo e Thiare Maia contribui para o bom resultado final. Longe de pesar a mão, a encenação toma o caminho da farsa, do exagero calculado, da inversão de valores, mas tudo isso sem nunca perder o foco. OK. A partir de determinado ponto o espectador já pode pressentir qual será o desfecho, mas isso em nada atrapalha o prazer de assistir a essa peça tão bem-escrita e encenada. Vale a pena conferir.

Obituário Ideal fica até o dia 11 de dezembro, na Casa de Cultura Laura Alvim. Sextas e sábados às 21h, domingos às 20h. Ingressos a R$ 30,00. Vale a pena conferir.

2 comentários:

  1. adorei a resenha!
    que bom que somos um comercial de margarina.
    muito gostoso ver quando uma ideia sai da cabeça e é percebida diretinho pelo espectador!

    bjs, rodrigo.

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  2. Caríssimo Rodrigo,

    É sempre gratificante sair de um espetáculo com essa sensação de que o que você acabou de assistir foi um acréscimo à tua vida. Parabéns mais uma vez por esse trabalho perspicaz, divertido e inteligente. E, claro, merda para todos vocês!

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