segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Judy Garland – O Fim do Arco-Íris



Estreou sábado no Teatro Fashion Mall Judy Garland - O Fim do Arco-Íris, o novo espetáculo de Charles Möeller e Claudio Botelho. Trata-se da adaptação nacional para o texto do britânico Peter Quilter (que, aliás, estava presente à estreia) que vem sendo um enorme sucesso no West End londrino desde o ano passado. Vale lembrar que a peça estreará na Broadway somente em 2012, o que configura mais uma conquista impressionante para essa dupla cujo trabalho já é sinônimo de alta qualidade no teatro brasileiro.

Aqui na nossa versão, Claudia Netto arrasa no papel de 
Judy Garland, mãe de Liza Minelli e lembrada principalmente como a Dorothy do clássico O Mágico de Oz. O espetáculo acompanha os conflitos por trás de uma temporada de seis semanas que a estrela – que viria a falecer no ano seguinte – fez em uma casa noturna de Londres em 1968. Inspiradora de biografias, minisséries e documentários diversos, Judy Garland é até hoje uma personagem fascinante e controversa, retrato de uma Hollywood tanto glamorosa quanto desmedida. No caso de Judy, habituada pela mãe desde muito jovem a tomar pílulas o tempo todo para render melhor – prática incentivada pela própria MGM, é bom lembrar –, as consequências não poderiam ter sido mais desastrosas. Citando a própria peça, ela "estava sempre tão dopada que quase voava na estrada de tijolos amarelos sem precisar do tornado".

O resultado, anos depois, é aquele mostrado no espetáculo: com apenas quarenta e sete anos, Judy era uma mulher infeliz, endividada, torturada pela solidão apesar de seus muitos amores, dependente de comprimidos e álcool. Ainda uma diva quando conseguia subir ao palco, tinha contra si o fato de estar cercada de pessoas que a bajulavam como estrela, mas não enxergavam a carência de afeto por trás de sua exuberância. A única exceção, talvez, fosse o amigo Anthony, pianista inglês que a acompanhava há anos e presenciou a fatídica turnê. Anthony é interpretado com delicadeza e carisma por Gracindo Júnior, enquanto Micky, quinto e último marido de Judy, é personificado pela bela figura de Igor Rickli (de Hair).

Existe uma confusão muito recorrente aqui no Brasil entre musical, como gênero, e espetáculos que, de alguma forma, contenham músicas. Musical propriamente dito é quando a ação é interrompida para que o elenco cante e dance músicas que, em geral, foram escritas para ajudar a contar aquela história. O Fim do Arco-Íris é outro departamento: trata-se de um drama que tem números musicais, pelo fato de ter como pano de fundo os bastidores das apresentações da biografada, mas é, sobretudo, um drama - ou uma tragédia, se preferirem.

Talvez justamente por não ser um musical, a opção dos diretores foi manter todos os números com seus arranjos e letras originais, mesmo porque estamos falando de clássicos absolutos como For Once in My Life, Just in Time, Smile e That’s Entertainment, além, é claro, da emblemática Over the Rainbow. Uma banda composta de seis músicos acompanha Claudia Netto, que impressiona não somente pela potência vocal, mas também pela carga de dramaticidade que confere a cada canção. Que comoção eletrizante paira sobre toda a plateia ao vê-la cantando, com ar desamparado, How Insensitive (que eu particularmente considero uma das letras mais doloridas já escritas sobre separação). Do início divertido e espirituoso até o desfecho comovente, Judy Garland – O Fim do Arco-Íris é um espetáculo denso e muito emocionante sobre o entardecer de um dos maiores mitos de todos os tempos. Imperdível!

Judy Garland – O Fim do Arco-Íris segue no Teatro do Fashion Mall até 12 de fevereiro de 2012. Quintas às 18h, sextas às 21h30, sábados às 21h e domingos às 20h. Ingressos a 80,00 (qui e sex) e 100,00 (sab e dom).


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