quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O Preço do Amanhã


O Preço do Amanhã – tradução bem diversa do original In Time – já tem a seu favor uma qualidade que não deve ser menosprezada em tempos de tantas ideias requentadas, recicladas e refeitas: um argumento de fato original. Em um futuro não determinado (ou em uma realidade paralela), as pessoas param de envelhecer aos vinte e cinco anos. Com esta idade, passam a ter um relógio estampado na própria pele que começa com um ano de crédito. Se não ganharem de alguma forma seu próprio tempo adicional – seja trabalhando ou por herança –, morrem aos vinte e seis. Nesta sociedade isenta de dinheiro e outras formas de capital, é o tempo a única moeda de troca e meio de sobrevivência: trabalha-se por tempo, paga-se o aluguel com tempo ou pede-se tempo emprestado ao banco, sempre tendo o cuidado de não deixar zerar os minutos gravados na pele. Quem fica sem crédito morre, simples assim.

Um mundo sem dinheiro não se transforma necessariamente em um mundo justo, conforme bem exemplifica essa criativa história. Os pobres, tendo que ganhar seus minutos suados sem nunca poder se dar ao luxo de desperdiçá-los, não tem sequer conhecimento de que, distante de seus guetos – em outros fusos horários –, existem pessoas com todo o tempo – ou melhor, poder – do mundo. Pessoas que podem até viver para sempre, protegidas por seus relógios de treze dígitos. É esse ambiente que Will Salas passa a conhecer quando um milionário entediado de tanto viver lhe doa um século. E talvez baste um estranho no ninho para abrir uma rachadura em todo um sistema.

Muito interessante o paradoxo criado pelo roteiro, ao contrapor o ideal mítico da juventude eterna à implacabilidade do sistema para manter-se vivo. Em um mundo onde a velhice foi erradicada, o privilégio da juventude de nada adianta se a pessoa não obtiver o tempo necessário para desfrutá-la. Expressões como “tempo é dinheiro” e “você pode me dar cinco minutos?” ganham um sentido literal nesta trama, criando códigos comportamentais como aquele que diferencia pobres de ricos pela velocidade com que caminham. Também é curioso ressaltar que a juventude eterna não tem nenhuma relação com imortalidade e que a simples constatação de não envelhecer e, portanto, não estar sujeito à degradação do corpo torna as pessoas privilegiadas – ou seja, que não precisam “ganhar” seu tempo – medrosas, ociosas, apáticas.

O filme é um blockbuster sim e, portanto, não deixa de privilegiar as cenas de ação e as perseguições implacáveis. Poderia ter sido mais cabeça e menos óbvio? Certamente que sim. Poderia ter desenvolvido melhor os protagonistas e suas histórias familiares? Deveria. Mas, apesar de sempre escolher o caminho mais comercial, O Preço do Amanhã parte de uma ideia tão interessante e que permite questionamentos tão ricos, que é impossível não gostar do filme. E justiça seja feita, Justin Timberlake e Amanda Seyfried (linda com esse hairstyle) formam uma dupla vibrante e com boa química em cena.

Vale a pena conferir esse pipocão filosófico e de qualidade. Deve alcançar um enorme sucesso nas bilheterias. Amanhã nos cinemas.

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