segunda-feira, 31 de março de 2008

O Sobrevivente



Filmes sobre a guerra do Vietnã têm sido feitos aos montes, inúmeros diretores já deram sua visão: Francis Ford Coppola no definitivo Apocalypse Now, Stanley Kubrick em Nascido para Matar e Oliver Stone em Platoon são apenas os mais conceituados deles. O alemão Werner Herzog tenta uma ótica diferente, ao narrar a saga de um compatriota a serviço do Tio Sam. O Sobrevivente, recém-chegado às locadoras, é baseado no documentário Little Dieter Needs to Fly, dirigido em 1997 pelo próprio Herzog, e conta a história verídica do piloto Dieter Dengler, que serviu a marinha americana durante a Guerra do Vietnã e foi capturado como prisioneiro de guerra quando seu avião foi alvejado durante uma missão secreta no Laos. Torturado e sem esperanças de ser resgatado, Dengler arrisca tudo ao liderar os prisioneiros, americanos e vietnamitas, num desesperado plano de fuga.

Em primeiro lugar, há que se aplaudir Werner Herzog por ter realizado esse filme com um orçamento de apenas US$ 10 milhões. Sem dúvida que é uma produção realizada com muita competência, porém com pouca emoção. O protagonista é tão seguro de si o tempo todo que o espectador não consegue se solidarizar com suas privações. Ele é excessivamente eficiente, sempre sabendo como agir e qual o próximo passo a tomar. E é preciso ressaltar que Dieter Dengler era um piloto inexperiente em sua primeira missão. Por mais durão que fosse seu temperamento germânico, espera-se ver ao menos um pouco de desespero num homem que se vê prisioneiro de guerra no meio da selva. Mas não. A impressão que o espectador tem, desde o princípio, é que nada acontecerá àquele homem. Sem contar que o fato do filme se chamar em português O Sobrevivente - assim, no singular - já deixa bem claro não apenas seu triunfo como também o fracasso alheio. Mas isso não chegaria a ser um problema. Existem ótimos filmes dos quais já se sabe o desfecho, ainda mais quando inspirados em histórias reais. O pior é a frieza com que tudo é conduzido, como se Dieter estivesse jogando num reality show e não lutando pela vida.

Felizmente, Christian Bale é um ator extremamente habilidoso e não permite que seu personagem vire um Rambo do século XXI. Também é uma boa surpresa ver o eterno engraçadinho Steve Zahn em seu primeiro papel realmente dramático. O ator emagreceu nada menos que 18 quilos para interpretar um prisioneiro à beira da loucura e apresenta um trabalho de primeira linha.

Outro aspecto que incomoda é o ufanismo fanático de Dengler, expresso em declarações cafonas como "Eu amo a América porque a América me dá asas". OK. A frase, aparentemente, é do próprio. Mas é bom lembrar que O Sobrevivente é o primeiro filme de Werner Herzog escrito em inglês e com elenco hollywoodiano; ou seja, seu primeiro longa genuinamente americano. No material distribuído à imprensa, Herzog declara: "Dieter Dengler personificou tudo o que eu amo na América: coragem, perseverança, otimismo, autoconfiança, espírito livre, lealdade e alegria de viver". Não sei não, mas essa súbita paixão do cineasta pelos States me deixa meio desconfiada. Para piorar, o longa tem pelo menos dez minutos além do que deveria. E esses minutos finais não têm outra função senão glorificar a marinha americana. É um pouco decepcionante ver um filme tão arrumadinho vindo de um diretor que tem como trabalho anterior o impactante documentário O Homem-Urso. Mas tudo bem. Cineastas também têm contas a pagar.

Um comentário:

  1. O que diferencia o filme,
    são os ótimos Bale e Zahn, o segundo com ressalvas.

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