terça-feira, 2 de março de 2010

Coração Louco


É a velha história, cara conhece garota que pode mudar sua vida infeliz. Mas mudar, mesmo que seja para melhor, nem sempre é fácil. No final, tudo se resume a isso. Bad Blake é um cantor de música country falido, que ganha a vida se apresentando em bares de quinta e boliches de beira de estrada por qualquer trocado. Bad tem 57 anos e quer preservar sua fama de rebelde: vive na estrada, bebe sem parar e arrasta para seu quarto qualquer mulher que lhe faça uma festinha depois de um show. E poderia passar o resto da vida assim, bebendo e comendo todas, caso seu coração louco um dia não se descompassasse pela jornalista Jean Craddock.

Jean, apesar de bem mais jovem, não é nenhuma ingênua. Ela tem um filho pequeno para criar e sabe que envolver-se com Bad só vai trazer encrenca para sua vida. Mas acontece que a moça consegue enxergar o cara legal por trás da figura bêbada e decadente. E convenhamos que Jeff Bridges, mesmo com a caracterização desleixada, ainda é bem charmoso. Sem grandes arroubos ou escândalos, mantendo seus sentimentos muito mais contidos em olhares e silêncios do que em frases de efeito, os dois tentam fazer o amor dar certo. E pode-se dizer que a relação deles é tão desconcertante justamente por estar nessa delicada região do muito difícil porém possível.

Outro tema interessante que o filme aborda é a exploração de um artista que caiu no esquecimento por outro mais famoso e menos talentoso. Nos velhos tempos, Bad ensinou muito ao novato Tommy Sweet. Agora Tommy é um fenômeno country que lota estádios e lhe oferece uma boa grana para que ele componha músicas novas, sugando para si o melhor da produção de seu antigo mentor. E Bad ainda tem que ser muito grato em poder abrir o show de seu ex-protegido – a escolha do mascarado Colin Farrell para o papel de Tommy não podia ser mais acertada. Outro ponto positivo é que o filme não pesa a mão nas atitudes de Bad sob efeito do álcool. Trata-se muito mais do que “poderia acontecer” do que o que de fato acontece, e isso tira os problemas do personagem da esfera restrita do alcoolismo e leva para o universo de qualquer pessoa que errou e busca uma reabilitação.

Jeff Bridges, favorito absoluto para o Oscar, é sem dúvida a alma do filme. Uma coisa que chama atenção é que sua atuação é muito contida, ao contrário do que costumamos ver em personagens alcoólatras. São pequenos detalhes, como a fivela do cinto sempre solta e uma leve imprudência natural, que moldam a personalidade de Bad Blake. Sua entrega impressiona também nos momentos em que solta a voz, com destaque para a bela cena em que ele volta a compor. Mas ninguém atua tão bem sem o respaldo de uma boa companheira de cena. Maggie Gyllenhaal é simplesmente luminosa e sua interpretação, igualmente emocionante. Os dois, juntos, arrancam lágrimas dos corações mais durões.


Em tempos de cifras astronômicas e tantos efeitos em 3D, são os pequenos filmes que estão surpreendendo e emocionando em 2010. E talvez uma das coisas mais difíceis seja trabalhar em cima da simplicidade, sem cair na tentação de agradar o público ou inventar viradas inesperadas. É essa lição – a de que o pouco pode ser muito – que o jovem diretor estreante Scott Cooper ensina a muito cineasta experiente com este singelo e comovente Crazy Heart.

Sexta-feira nos cinemas. Confiram!

3 comentários:

  1. Carissima,

    Antes de qualquer coisa, parabéns pela personalidade e estilo do seu espaço aqui. Muito bom!

    Ah, ainda não pude conferir este filme...mas, acho que qualquer trabalho de Bridges me cativa, sempre achei ele bem intenso e versátil.

    Abraço e sou teu seguidor, vou adicionar o teu ao meu hall de blogs amigos.

    ATÉ

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  2. Obrigada Cristiano, e espero que continue curtindo os textos!

    Jeff realmente está sensacional, vale a pena conferir. Caso ele ganhe mesmo o Oscar, será a coroação de uma bela carreira.

    Abraços,

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  3. Oi, Erika

    Continuarei, sim!
    Você viu o Arte&Subversão no meu Apimentário e viu meus outros comentários em seus textos antigos? pois bem, aparecerei mais.

    te convido a conhecer meu espaço e, se quiser, ser minha seguidora. Pode me linkar também, se possível.

    Teu espaço é vasto e, aos poucos, vou te lendo.

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