segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O Homem do Futuro


Uma coisa que eu sempre defendi quando o assunto é cinema brasileiro é que o mesmo carece de uma maior pluralidade de estilos. Nossos filmes parecem, em sua maioria, se dividir entre duas vertentes bem distintas: de um lado, as comédias de apelo popular com astros das novelas ou adaptações de seriados televisivos; de outro, os filmes que retratam as mazelas sociais e/ou violência urbana. Gêneros como terror, suspense e ficção científica são solenemente ignorados pela nossa cinematografia. Mas esse é apenas um dos motivos que tornam O Homem do Futuro, novo longa de Claudio Torres, tão interessante.

Wagner Moura é João, conhecido como Zero desde o dia em que foi humilhado em uma festa pela bela Helena, por quem estava perdidamente apaixonado. Apesar de ser um gênio da física, sua vida é um caos. Solitário, mal-humorado e ainda ressentido pelo que lhe aconteceu 20 anos antes, Zero dedica-se febrilmente a uma invenção revolucionária que criará uma nova forma de energia. Ao testar a máquina, acaba criando uma fenda no tempo e seus pensamentos obsessivos acabam levando-o de volta à fatídica noite de 1991 que bagunçou sua vida para sempre.

OK. O argumento não é a coisa mais original do mundo, podendo até ser descrito como uma mistura de Efeito Borboleta e De Volta Para o Futuro. Mas, mesmo lidando com uma história que, a princípio, parece batida, Claudio Torres entrega um filme apaixonante e que ganha uma feição bem brasileira. Talvez pela boa decisão de ambientar o passado no início dos anos 90, época em que, recém-saídos da ditadura, vivíamos um momento de liberdade e encanto. Era a época ideal para sonhar, ao embalo do rock Brasil que explodia nas festas tresloucadas da garotada.


Com doses balanceadas de comédia, romance e ternura, acompanhamos Zero em suas tentativas de consertar a própria vida. Sendo um físico, o personagem sabe melhor do que ninguém que mesmo a menor das interferências pode ter desdobramentos infinitos, criando toda uma nova cadeia de acontecimentos futuros. Mas quem pode colocar a razão acima da sensibilidade quando o que está em jogo é uma segunda chance de ser feliz? Quando a reconquista da pessoa amada está tão ao alcance?

Tem muita gente que reclama da supremacia de Wagner Moura nas telas de cinema. Fazer o que, se o cara é um dos maiores atores do momento? Se eu fosse fazer um filme, também ia querer o Wagner no meu elenco. Fazendo qualquer papel que fosse. Porque ele dá conta. No caso deste filme, de interpretar o mesmo personagem em diferentes idades, momentos e situações. Outra coisa interessante é que a caracterização se apóia muito mais no talento do ator do que em artificialismos de maquiagem. A expressão de lesado que ele faz para o Zero jovem consegue suspender nossa descrença e realmente nos convencer que estamos diante de um garoto de 20 anos.

Alinne Moraes vem provando nos últimos anos que é muito mais do que uma mulher bonita e, com este filme, deixa claro que aquela Alinne de Fica Comigo Esta Noite – que parecia muito pouco à vontade com a sétima arte – definitivamente ficou para trás. No elenco coadjuvante, o ótimo Fernando Ceylão faz o clássico papel do melhor amigo do protagonista e o lindo Gabriel Braga Nunes encarna mais um vilão maquiavélico.


A ótima escalação de elenco, somada aos diálogos espertos e ao bom ritmo, resultam em um filme vibrante, terno e engraçado, que faz o espectador torcer pelos personagens a cada nova reviravolta dos acontecimentos. E, por fim, não podemos deixar de mencionar os efeitos especiais, sempre bem aplicados e na medida certa, ou seja, nunca ofuscando a história que está sendo contada.

O Homem do Futuro é uma ótima surpresa e uma prova de que cinema pode ser inteligente, popular, sério, divertido e metafísico. Tudo ao mesmo tempo e feito com extrema competência. Adorei. Desafio você, leitor, a não sair da sala cantarolando Tempo Perdido.


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