quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Um Dia


A vida parece fácil de ser compreendida quando assistimos a algumas comédias românticas. Um casal espirituoso vai se conhecer, sentir atração, se desentender, aprender lições e se acertar no final. Mudam as variáveis, mas o resultado é sempre parecido. Felizes para sempre. Reconfortante, não? O público sai do cinema satisfeito, com a gostosa sensação de que, cedo ou tarde, aquela equação se aplicará também à sua vida. Um Dia não é uma dessas comédias românticas. Que fique avisado o espectador. Mas que fique avisado também que aqueles que ousarem sair dessa zona de conforto serão recompensados por um filme muito sensível e romântico sim, porém verdadeiro. Ou seja, sem garantias indefectíveis.

Dexter e Emma se conheceram na noite de 15 de julho de 1988. Imediatamente tornaram-se cúmplices, numa amizade que logo se solidificou. Com o passar dos anos, os dois quase namoraram várias vezes, ficaram ocasionalmente e viveram as duas décadas seguintes se encontrando e desencontrando, mas sempre mantendo um vínculo muito forte entre eles. Emma sempre foi visivelmente apaixonada por Dexter enquanto ele, apesar de corresponder aos seus sentimentos, sempre punha uma barreira no caminho e travestia a paixão em amizade. Conveniente, pois, dessa forma, poderia estar sempre junto a ela sem precisar assumir um relacionamento.

O filme narra a vida desses dois personagens tomando o dia 15 de julho como parâmetro, então a cada ano também o espectador se reencontra com Dexter e Emma e acompanha os novos rumos em suas vidas. Dexter, a princípio, parece mais bem-resolvido: melhor vida, melhor emprego, maior facilidade com o sexo oposto, mas não tardamos a perceber que todas as suas conquistas lhe fazem mais mal do que bem e que Emma, mesmo demorando um pouco mais a se encontrar, é quem dará seus passos mais segurança e equilíbrio. De uma forma ou de outra, a certeza que temos ao longo de todo o filme é a de que os protagonistas não são opostos, mas complementares. Que fazem todo o sentido juntos. Não da forma mágica e predestinada dos contos de fadas, mas ligados por um vínculo mais verdadeiro e sutil.


No momento em que sente sua vida desabar, Dexter telefona a Emma e diz “Eu preciso falar com alguém. Não, eu preciso falar com você.” Já Emma, quando se decepciona com ele, sentencia “Dex, eu te amo e provavelmente sempre vou amar. Mas no momento não gosto de você”. Os personagens são tão “gente como a gente” e possuem fraquezas tão facilmente reconhecíveis que poderão até irritar um pouco o espectador, seja na falta de autoconfiança que mina algumas atitudes de Emma ou no excesso da mesma que impulsiona Dexter a reações pouco simpáticas. Somando-se isso à cumplicidade que Jim Sturgess e Anne Hathaway demonstram em cena e à direção segura de Lone Scherfig (do ótimo Educação), o resultado é um filme que certamente fará o espectador pensar sobre suas próprias decisões. E talvez a lição mais válida em toda a trama seja a de que a vida, assim como o mundo, dá voltas. E que todos temos um 15 de julho fatídico em nossas vidas.

Amanhã nos cinemas.


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