Não vamos ser hipócritas: a grande curiosidade em torno desse filme tem muito mais a ver em saber como Daniel “Harry Potter” Radcliffe se sairá em um papel adulto do que com o longa em si. Não é para menos, já que o público passou os últimos dez anos enxergando o ator através dos indefectíveis oclinhos redondos de seu personagem. Daniel cresceu diante das câmeras e até conseguiu fazer um filme entre um Harry Potter e outro (Um Verão Para Toda Vida, em 2007), mas é como se o ator não tivesse uma identidade separada do célebre menino bruxo. Então havia a grande incógnita: quem é de fato Daniel Radcliffe e o que ele vai fazer da sua carreira agora? A julgar por esse primeiro trabalho, podemos dizer que ele tem potencial para sobreviver à maldição do personagem único.
No terror clássico A Mulher de Preto, Daniel interpreta o advogado Arthur Kipps. Pai de um menino de quatro anos e viúvo inconsolável, Arthur há anos não vem dando a atenção necessária ao trabalho. Como última chance, é praticamente intimado a viajar a um pequeno vilarejo para inventariar todos os papéis e documentos particulares de uma rica senhora recém-falecida. No lugar, todos parecem sempre sobressaltados e ficam ainda mais apavorados quando Arthur anuncia sua intenção de passar alguns dias na mansão da cliente para se inteirar de tudo. O protagonista começa a desconfiar que algo de maligno envolve a propriedade e, de alguma forma, causa tragédias envolvendo as crianças do vilarejo.
OK. A Mulher de Preto não é daqueles filmes de terror impactantes que ficam martelando na nossa cabeça, mas é um filme bastante digno. Apostando mais no suspense clássico dos filmes antigos, evita apelar para o terror fácil de trilha sonora estridente ou para a sexualidade explícita dos adolescentes com hormônios em fúria. Elegância é a palavra de ordem. A trama começa com uma cadência um pouco lenta, mas logo ganha bom ritmo e consegue dar alguns bons sustos. A solução para o mistério poderia ser mais elaborada, é bem verdade, mas o resultado final é satisfatório em termos gerais.
Daniel Radcliffe segura bem um personagem mais adulto do que sua idade cronológica e com uma carga emocional especialmente pesada. E, mais importante, prova que consegue construir um personagem que em nada lembra o famoso Harry Potter. Bom para ele e, por conta disso, cresce a expectativa em conferir seu próximo trabalho: Radcliffe será o poeta Allen Ginsberg no filme Kill Your Darlings, ainda em fase de pré-produção.
Uma curiosidade: Misha Handley, que interpreta o filho de Arthur, é afilhado de Daniel Radcliffe na vida real. A escalação foi sugestão do ator, que acreditava assim poder estabelecer uma empatia mais forte entre os personagens.
Já nos cinemas.
Essa foto que você colocou aí me lembrou da única coisa estranha no filme: ele tentar se defender do fantasma com a machadinha... mas tudo bem, deve ter sido instinto. No mais, assino embaixo do que dizes. Abraço
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