quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Histórias Cruzadas



Assim como ocorre com A Dama de Ferro (falaremos sobre ele em breve, já que sua data de estreia foi adiada), também Histórias Cruzadas é um filme que se apóia principalmente em seu elenco. A diferença é que, enquanto o primeiro é um incrível tour de force solo de Meryl Streep, aqui temos um verdadeiro time de boas atrizes em interpretações inspiradas, lideradas pela sempre impecável Viola Davis. Ok, eu estou sendo um pouco injusta nesta comparação. Enquanto A Dama de Ferro é de fato um filme equivocado, este Histórias Cruzadas apenas tem contra si o fato de ser um drama realizado nos moldes mais tradicionais possíveis. Também incomoda um pouco o modo como alguns conflitos são abordados, como, por exemplo, o fato das mulheres negras encontrarem sua chance de expressão somente através da boa consciência de alguém vindo do lado das “patroas”.

The Help, no original, é baseado no best-seller homônimo da americana Kathryn Stockett (publicado aqui no Brasil como A Resposta) e narra uma história ambientada em Jackson, Mississipi (um dos estados americanos mais repressores no que diz respeito à segregação racial da época), na década de 60. Skeeter, jornalista recém-formada e aspirante a escritora, acaba de voltar para casa com um diploma e muitas ambições. Não fica claro se a personagem sempre foi mais progressista do que as amigas ou se foram os anos estudando fora de Jackson que a deixaram assim, mas a verdade é que a moça começa a se sentir bastante desconfortável pelo modo como os negros, em especial as empregadas domésticas, são tratados. Mulheres que praticamente criam os filhos das patroas, mas não tem direito a usar o mesmo banheiro que elas.


Unindo a revolta à ambição literária, Skeeter tem a ideia de entrevistar essas mulheres, saber como se sentem, enfim, dar-lhes uma voz. O problema é que ninguém quer falar, todas tem medo das consequências, até que uma delas, Aibileen, se mune de coragem e, aos poucos, ajuda Skeeter a obter os depoimentos de muitas outras mulheres da região, o que acaba por expor hipocrisias e mentiras escondidas por trás das famílias ditas respeitáveis, alavancando uma série de mudanças sociais e comportamentais. 

Este é o segundo longa dirigido e roteirizado pelo ator Tate Taylor (o primeiro foi uma comédia de 2008 intitulada Pretty Ugly People). Taylor sabe manter sua histórias nos trilhos, ainda que recorra excessivamente à manipulação dos sentimentos do espectador e ao maniqueísmo no trato com os personagens, mas tem que ser muito grato antes de tudo ao seu magnífico elenco, que é, no final das contas, a grande força do filme e o motivo pelo qual o longa vem obtendo tanta atenção nesta temporada de prêmios - a mesma história com outro elenco seria como qualquer um desses dramas televisivos que passam por aí na Sessão da Tarde. Viola Davis, Octavia Spencer, Jessica Chastain, Emma Stone e até mesmo atrizes em pequenas participações – como é o caso de Sissy Spacek e Allison Janney – estão todas fantásticas. E é o trabalho de todas essas mulheres admiráveis que faz deste um filme que deve ser visto sem demora. Sexta nos cinemas.


2 comentários:

  1. Erika, não me senti incomodado com o fato de Skeeter, uma branca, ser aquela a trazer esperança para todas essas empregadas. Aliás, acredito que Skeeter nada mais é do que o empurrão que estas personagens precisavam. As verdadeiras heroínas de "Histórias Cruzadas" são elas, só precisavam de um pequeno apoio para reunir toda a coragem necessária para relatar suas próprias experiências. Digo isso porque o que mais pipoca por aí é que "Histórias Cruzadas" é um filme preconceituoso sobre o preconceito daquela época, algo que acho absurdo. Também é importante reforçar que trata-se de uma fita da Disney, o que justifica os "moldes tradicionais".

    No mais, você tem toda a razão. Por mais que eu realmente tenha gostado da história, há alguns tropeços que poderiam ser evitados. Nada muito relevante diante do maravilhoso elenco de atrizes. Ainda preciso ver Michelle Williams em "Sete Semanas com Marilyn", mas para mim o Oscar de melhor atriz já podia ir para Viola Davis!

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  2. Olha Alex, acho que essa disputa é uma das mais acirradas dos últimos tempos. Para mim, a única que não tem chance é a Rooney Mara. Todas as outras quatro estão no páreo. O que pesa um pouco a balança para Meryl são as 17 indicações não convertidas em prêmios dos últimos anos. Por outro lado, Viola tem a seu favor o fato de Histórias Cruzadas ser bem melhor do que A Dama de Ferro. Mas Michelle Williams (que vem sendo "cortejada" pela Academia ultimamente) e Glenn Close (grande atriz nunca premiada antes) também correm por fora, vamos ver quem leva a melhor!

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