quinta-feira, 27 de junho de 2013

Os Amantes Passageiros


Se olharmos para o passado, veremos que não é a primeira vez que Pedro Almodóvar se entrega ao escracho. Seus primeiros longas eram verdadeiras chanchadas e o cineasta seguiu mais ou menos nessa levada até Mulheres À Beira de um Ataque dos Nervos (1988). Foi somente a partir da década de 90 que Almodóvar começou a se firmar como realizador mais denso e a mesclar seu humor anárquico ao melodrama, chegando, dessa forma, a seu característico estilo atual. Pois bem, Os Amantes Passageiros é o retorno de Almodóvar à diversão descompromissada.

O filme se passa quase totalmente na primeira classe de um voo de Madrid para a Cidade do México. Logo na cena de abertura vemos que uma discussão entre dois funcionários do aeroporto (Antonio Banderas e Penélope Cruz em participação afetiva) causou um problema no trem de aterrissagem do avião, o que obriga o piloto a ficar voando em círculos em busca de uma pista vazia para tentar um pouso de emergência. Os passageiros da classe econômica não se dão conta de nada, já que é hábito da equipe dopá-los para suportar o estresse, mas os comissários devem entreter os da primeira classe, em especial uma dominatrix que chicoteou os homens mais famosos do país e acha que tudo aquilo é um atentado a sua vida.

O que dizer? Os Amantes Passageiros é um grande besteirol, um nonsense, um desbunde absurdo repleto de purpurina e piadas de duplo sentido. O que realmente mantém o filme de pé é o elenco de primeira linha, com destaque para Javier Cámara, Raúl Arévalo e Carlos Areces, que interpretam os três comissários de bordo despudorados – Cámara é particularmente engraçado como o comissário histérico que não consegue mentir e enche a cara o tempo todo. Também é sempre bom reencontrar a divertida Lola Dueñas e curioso ver Cecilia Roth em um papel cômico. Em tempo: o filme seria mais coeso caso a trama se mantivesse toda dentro do avião. A sequência externa que mostra as namoradas do ator faz o ritmo decair bastante.


Um Almodóvar menor? Com certeza. Mas Almodóvar não é um dos mais importantes cineastas do momento por mero acaso, e mesmo os seus filmes mais descartáveis apresentam alguma coisa de interessante. É claro que Os Amantes Passageiros é um filme desprovido de conteúdo, mas que se torna simpático por sua irreverência e liberdade. Precisava ter sido feito? Não, mas já que o filme está aí vamos nos divertir com ele. Amanhã nos cinemas. 

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