quarta-feira, 5 de junho de 2013

O Grande Gatsby


O Grande Gatsby foi o filme de abertura do último Festival de Cannes. Pompa e circunstância à parte, desde então o novo trabalho do australiano Baz Luhrmann vem sendo tratado com indisfarçável má vontade pela crítica especializada. Teriam os críticos torcido o nariz pelo simples fato de ser uma superprodução? Ou teriam se incomodado com o uso da tecnologia 3D para recontar um clássico? Ou estaria Luhrmann ainda sendo perseguido por conta de seu longa anterior, Austrália? Depois de assistir ao filme, é impossível não se fazer estas e algumas outras perguntas do gênero.  

Esqueçamos os tropeços de Austrália. Em O Grande Gatsby Baz Luhrmann volta com tudo ao seu característico estilo frenético e exuberante. Com muitas cores fortes, luz, música, figurinos deslumbrantes, travellingsestonteantes – ainda mais vertiginosos pelo bom uso do 3D – e uma concepção totalmente operística, Luhrmann carrega o espectador para dentro de um universo delirante e superlativo. Em vez do cancan, agora o charleston dá o tom; no lugar do narrador que viveu ele mesmo uma paixão avassaladora, agora o relato vem de um observador mais distanciado; diferenças existem, mas a vibração e a atmosfera são incrivelmente semelhantes à de Moulin Rouge. E, embora não seja um musical, também este filme se destaca pelo uso criativo de canções já conhecidas em sua trilha sonora – atenção para a cena com Back to Black ao fundo. Resumindo, estariam criticando Baz Lurhmann por ser muito... Baz Lurhmann? Simplesmente não dá para entender.


Baseada no célebre romance de F. Scott Fitzgerald, a trama gira em torno de Jay Gatsby, milionário excêntrico e misterioso que oferece sucessivas festas em uma mansão nos arredores de Nova Iorque nos prósperos anos 20. Todos conhecem o seu nome e frequentam sua casa sem precisar de convite, mas ninguém parece conhecer sequer o rosto do homem por trás de tanto glamour. Especula-se de tudo a respeito de Gatsby, mas quem é ele e de onde vem sua fortuna? Gatsby é, na verdade, um homem com um único propósito: chamar a atenção de seu amor perdido e recuperá-lo. Para isso, está disposto a tudo e não hesita em escrever para si mesmo uma nova e mais interessante biografia.

A história é narrada pelo aspirante a escritor Nick Carraway, que mora ao lado da mansão e aos poucos se torna o único amigo genuíno de Gatsby. Não deixa de ser curioso que o papel seja interpretado por Tobey Maguire, que na vida real é amigo de infância de Leonardo DiCaprio. Com um misto de curiosidade e fascínio, vemos aquele universo de luxo, exageros e aparências através dos olhos de Nick. Também o espectador é um recém-chegado a quem se deve impressionar. Num segundo momento, o ritmo se acalma para que possa florescer o conflito e é então que, conforme passamos a conhecer o verdadeiro Jay, o longa passa a ser mais emotivo do que entorpecente.


Leonardo DiCaprio vem provando, há bastante tempo, que é um ator extraordinário e que possui total domínio do que faz, superando-se a cada personagem. Como Gatsby, transmite com perfeição as nuances de um homem cheio de charme e magnetismo, porém com um passado que quer esconder a todo custo. Tal como Sherazzade, Jay sobrevive contando fábulas e acredita poder comprar respeitabilidade, classe, finesse. E nos seduz com seu melhor sorriso e seu mundo milimetricamente construído, ao mesmo tempo em que deixa entrever o quão frágil é a fantasia que criou a seu redor.

Já Carey Mulligan encarna uma espécie de musa diáfana, representando mais um ideal de felicidade do que uma pessoa de verdade. Vale dizer que tanto Gatsby como Nick tem essa visão de Daisy, o que torna difícil tanto para os personagens como para o espectador desvendar a sua real personalidade. Tobey Maguire parece sempre carregar a expressão lesada de Peter Parker, o que se encaixa muito bem com o papel de Nick Carraway. A boa surpresa é Joel Edgerton, que vence a tentação de transformar Tom Buchanan em um mero vilão insensível e compõe seu personagem de forma mais subjetiva. Uma curiosidade é ver o astro indiano Amitabh Bachchan (aquele por cujo autógrafo o protagonista de Quem Quer Ser um Milionário mergulha na latrina) como um dos associados de Gatsby.


É bem verdade que Moulin Rouge segue inabalável no posto de obra-prima de Baz Luhrmann, mas isso não diminui o valor de O Grande Gatsby. Trata-se aqui de cinemão no bom sentido: um visual impecável, uma história poderosa e um elenco fabuloso, tudo sob a batuta de um cineasta cheio de estilo e originalidade, que sabe como poucos criar magia na tela. Sexta nos cinemas.

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