quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Clube de Compras Dallas


Eis que chega às nossas telas mais um concorrente ao Oscar baseado em uma história real. Clube de Compras Dallas acompanha a trajetória do eletricista texano Ron Woodroof após ser diagnosticado com o vírus da AIDS, desde os preconceitos sofridos (eram os anos 80, quando a doença ainda era vista como algo que atingia somente homossexuais) até sua reação contra os médicos e a indústria farmacêutica. Ron descobre remédios mais eficazes que não pode obter legalmente nos Estados Unidos e passa a contrabandeá-los do exterior. Os resultados são tão bons que ele tem a ideia de criar o clube do título, que ajuda inúmeros doentes tidos como terminais e, de quebra, o deixa rico.

Esse é o que se chamaria de um filme-muleta. Apoiado exclusivamente no talento de seus atores e com uma dramaturgia, no melhor dos casos, tímida. Com um roteiro esquemático e previsível, o filme mantém o espectador ligado graças ao tour de force promovido por Matthew McConaughey e, principalmente, Jared Leto. Matthew, que ultimamente vem se esforçando para recuperar os anos perdidos em infindáveis tipos de cafajestes que se regeneram em comédias românticas açucaradas, esbanja talento na pele desse personagem homofóbico, grosseiro e determinado. Jared é outro que nunca foi levado muito a sério e parecia nem estar muito preocupado com isso, já que divide a carreira de ator com a de roqueiro (ele também é vocalista da banda 30 Seconds to Mars). Sua interpretação como o transexual Rayon é de uma delicadeza poucas vezes vista. Enfim, são esses dois caras de prestígio até então limitado que dão alma a um filme que dificilmente funcionaria sem a presença deles, já que elementos como roteiro, direção e edição beiram o limite do constrangimento.


O filme concorre a seis Oscars: melhor filme, ator, ator coadjuvante, edição, roteiro original e maquiagem. Deve levar os dois prêmios de atuação e o de maquiagem, o que é justo (embora a atuação de Leonardo DiCaprio em O Lobo de Wall Street seja superior à de Matthew), mas é muito estranho que sequer tenha sido indicado nas outras três. O roteiro e a edição são justamente os pontos fracos do longa, já que o texto de Craig Borten e Melisa Wallack não consegue evitar a banalidade e o maniqueísmo, enquanto a montagem faz o filme parecer uma colcha de retalhos. Em nome de um “corte seco”, diversas cenas são interrompidas nos momentos mais questionáveis. Também a indicação a melhor filme é absurda, ainda mais se considerarmos quantas produções melhores foram excluídas – Blue Jasmine, Antes da Meia-Noite e A Grande Beleza são alguns exemplos.

O diretor Jean-Marc Vallée, que vinha dos bons C.R.A.Z.Y. e A Jovem Rainha Vitória, parece, de alguma forma, ter se intimidado com o projeto, já que acabou deixando o filme se dirigir sozinho. Como Vallée é também o montador, podemos dizer que ele tem somente a si mesmo para culpar e tudo a agradecer a Matthew e Jared. É por eles, somente por eles, que digerimos tanto didatismo. 


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