quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Trapaça


David O. Russell começou a carreira lá no final dos anos 80, mas somente nos últimos anos se tornou o queridinho de Hollywood. Começou em 2011, quando O Vencedor concorreu a sete Oscars e levou dois (ator e atriz coadjuvantes); ano passado, O Lado Bom da Vida obteve oito indicações (e deu a Jennifer Lawrence seu polêmico Oscar de melhor atriz); mas foi com Trapaça que o moço quebrou a banca: o filme concorre a dez estatuetas. E, pela terceira vez, Russell concorre como melhor diretor. Tanto reconhecimento é merecido? Nem tanto. Seus filmes até são bons, mas carecem justamente de uma direção com mais personalidade. A boa notícia é que este Trapaça é o mais interessante dos três.

O roteiro de Trapaça (American Hustle no original) é inspirado em uma história verídica ocorrida no final dos anos 70. Christian Bale e Amy Adams interpretam Irving Rosenfeld e Sidney Prosser, uma esperta dupla de vigaristas que, para escapar da cadeia, é obrigada a trabalhar para o FBI em uma complicada operação que tem como objetivo desmascarar políticos corruptos, incluindo o prefeito de um distrito de Nova Jersey. O que já era arriscado torna-se cada vez mais complicado conforme Rosalyn, a incontrolável esposa de Irving, começa a soltar o verbo sobre as atividades do marido e sua amante. Além disso, Irving desenvolve laços de amizade com o político cuja vida deve destruir e Richie DiMaso, o agente do FBI que os meteu nessa confusão, demonstra sinais de desequilíbrio e megalomania.


O destaque do filme é seu tom farsesco, que não se limita ao visual exótico do elenco e se estende à própria abordagem da trama. O personagem DiMaso, por exemplo, é interpretado por Bradley Cooper o tempo todo no limite do overacting, o que, estranhamente, tem tudo a ver com o filme. Já Jennifer Lawrence parece perdida, nem tanto pela histeria da personagem, mas por ser jovem demais para interpretá-la. Rosalyn deveria ser uma mulher vivida, calejada e da mesma faixa etária do marido e sua amante, mas basta olhar as feições adolescentes de Jennifer para que a credibilidade vá por água abaixo. Já Christian Bale e Amy Adams são, de longe, o ponto alto do filme, em especial Amy, que conjuga com maestria a malandragem e sensualidade da personagem com momentos de pura introspecção – sua indicação como melhor atriz é a mais merecida de todas que o filme recebeu.


Trapaça é uma produção exuberante e que conta uma história divertida. É um bom filme, daqueles que realmente fazem valer o ingresso. O seu grande defeito reside na insistência de Hollywood em supervalorizar Russell e Lawrence e tentar vendê-los como talentos maiores do que realmente são. 

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