quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Philomena


O filme é baseado no livro do jornalista Martin Sixsmith e conta a história de Philomena Lee e sua procura pelo filho que foi dela tirado quando ela era ainda adolescente. O cenário era a Irlanda ultracatólica dos anos 50: desprovida de quaisquer informações sobre o funcionamento do próprio corpo, Philomena engravida e é enviada pela família a um convento, onde é explorada pelas freiras e obrigada a trabalhar duramente para pagar suas despesas, podendo ver o filho Anthony uma hora por dia. Mas quando Anthony está com três anos, até essa pequena satisfação lhe é tirada: o menino é adotado sem que ninguém lhe consulte a respeito. Cinquenta anos depois, Philomena decide tentar rastrear o filho. Para isso, contará com a ajuda de um jornalista em crise que vê nela uma oportunidade de se reerguer profissionalmente.

A intolerância das instituições religiosas e a corrupção dessas mesmas entidades é assunto recorrente na história da Irlanda, já tendo gerado filmes-denúncia como The Magdalene Sisters (que inclusive são citadas em determinado momento). Philomena tenta trazer frescor a um tema espinhoso, porém já um pouco desgastado no cinema britânico. A solução encontrada pelo cineasta Stephen Frears foi diluir o drama com boas doses da típica ironia inglesa e adicionar pitadas de crítica às instituições e à hipocrisia por trás de seus dogmas. A receita em parte funciona, em especial pelo fato de contar com o talento da grande dama Judi Dench no papel-título e por sua boa química com Steve Coogan, que faz o contraponto à personagem no papel de um jornalista sarcástico e mal-humorado que entrou na missão não por razões humanitárias, mas visando seus próprios interesses.


Por outro lado, Philomena não acrescenta muito ao tema. Embora seja um filme simpático, ao qual se assiste com prazer, em nenhum momento surpreende ou realmente emociona. É uma produção digna, mas Stephen Frears já teve momentos bem mais inspirados em sua carreira. Em sua louvável tentativa de não carregar demais no melodrama, Frears acabou realizando um filme morno. Dentre todos os oscarizáveis deste ano, é um dos que impressiona menos. Philomena concorre a quatro Oscars: melhor filme, atriz (Judi Dench), roteiro adaptado e trilha sonora. Embora o roteiro já tenha sido premiado no Festival de Veneza, a indicação para Dench é a única realmente merecida.  

2 comentários:

  1. Pois penso que a decisão de Stephen Frears, que após "Chéri" estava devendo um filme acima da média, é bem acertada. Se Philomena nada mais quer do que saber o que aconteceu com o filho que lhe foi tirado, não vejo razão para filme insistir em alguma denúncia. E sequer acredito que isso torne o filme mais brando nas emoções. Pelo contrário, a relação entre os protagonistas é justamente valorizada quando ambos compreendem e respeitam seus valores distintos. Apesar de Philomena ter comido o pão que o diabo (ou o ser humano, como diria um amigo) amassou, ela não deixa de manter a sua crença e sequer busca mudar o ceticismo do Martin, embora volta e meia lhe dê algumas alfinetadas devido a sua frieza. Assim como "Nebraska", é um dos raros filmes dessa temporada com uma história que busca imprimir o melhor que há nas interações humanas e, por isso mesmo, o "Philomena" me comoveu.

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  2. Achei Philomena apenas OK, engrandecido somente pelo talento da grande Dench. Mas é claro que se compararmos com Chéri (blergh!) o filme vira obra-prima.

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