quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Nebraska


O cineasta Alexander Payne tem alguns temas recorrentes: personagens disfuncionais, pessoas que passam por profundas transformações devido a acontecimentos bizarros e, principalmente, laços que afeto que se fortalecem nos contextos mais inesperados. A primeira coisa que chama atenção na ficha técnica deste seu novo longa é o fato de, pela primeira vez, não ser ele o roteirista. Pois não é que o estreante em roteiros para o cinema Bob Nelson escreveu uma história que se harmoniza completamente com o estilo de Payne? O resultado é um filme delicioso, que impressiona por alinhavar com perfeição ternura e sarcasmo.

Bruce Dern, que foi premiado melhor ator no Festival de Cannes e concorre ao Oscar por este papel, é Woody Grant, um idoso que dá muito trabalho para a família: além dos já habituais problemas com álcool, a velhice lhe trouxe ainda confusão mental e perda de memória. Quando recebe uma correspondência picareta dizendo que foi sorteado para ganhar um milhão de dólares, Woody cisma de ir até uma cidade no Nebraska buscar seu prêmio. Loucura ou não, um dos filhos decide que vale a pena satisfazer o capricho do pai e deixá-lo viver a ilusão por alguns dias. No caminho, eles são forçados a passar pela cidade natal de Woody e pai e filho se deparam com parentes bizarros, situações inesperadas e muito falatório sobre o retorno do filho pródigo, fazendo com que a fantasia de início inofensiva escape ao controle deles.


Nebraska é um filme com tudo no lugar certo: o roteiro é redondo, com diálogos incrivelmente espirituosos; o ritmo prende o interesse do espectador da primeira à última cena; o elenco está tão fantástico que merecia uma premiação coletiva; a fotografia em P&B é um charme; e a direção firme de Payne conjuga todos esses elementos para criar um todo harmonioso. Imperdível, principalmente para quem gostou de Os Descendentes. Os dois filmes têm bastante em comum, embora esse aqui tenha um humor mais anárquico. 

O filme concorre a seis Oscars: melhor filme, direção, ator, atriz coadjuvante (a surpreendente June Squibb), roteiro original e fotografia. Infelizmente, não é favorito em nenhuma das categorias e periga sair da cerimônia de mãos abanando. Uma pena, já que o filme, ao lado de 12 Anos de Escravidão, pode ser desde já considerado um dos melhores do ano.

Nenhum comentário:

Postar um comentário