quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Se Eu Ficar


O tema do grande amor interrompido pela morte ou doença de um dos apaixonados costuma ser garantia de sucesso desde Love Story e seu “amar é nunca ter que pedir perdão”. Como na sétima arte nada se perde e tudo se recicla, esse tipo de melodrama tem retornado às telas com força total, ainda que ultimamente direcionado a um público ainda mais jovem. Só este ano já tivemos A Culpa é das Estrelas e agora este Se Eu Ficar, que ainda aproveita para pegar uma parcela do público dos filmes espíritas.

Baseado no romance da americana Gayle Forman, que também está sendo lançado aqui no Brasil, o filme conta a história de Mia, uma tímida violoncelista de dezessete anos que aguarda ansiosamente sua aceitação na renomada escola de arte Juilliard. Caso consiga, sua vida mudará radicalmente e ela terá que tomar difíceis decisões. Porém, antes de saber o resultado da audição, Mia sai com a família de carro e sofre um violento acidente que a deixa em coma. De alguma forma, ela sai do próprio corpo e consegue transitar pelos corredores do hospital, embora não possa se comunicar com ninguém. A partir daí, a trama se desenvolve entre a realidade e flashbacks onde ela relembra a vida em família, a descoberta do amor e seu envolvimento com a música clássica.

O filme se sustenta a partir da crença de que uma pessoa em coma pode circular fora do próprio corpo, ainda que a personagem não consiga se afastar do hospital nem atravessar portas ou paredes. O outro pilar da história seria o de que caberia muito mais ao próprio paciente, independentemente dos cuidados médicos, a decisão definitiva de morrer ou lutar pela vida – daí o título do livro/filme. O que equivale a dizer que toda a trama e os conflitos do filme são, na verdade, decisões internas, memórias e pensamentos da protagonista.


O cinema já lidou muitas outras vezes com questões metafísicas e certamente não é preciso estar de acordo com elas para apreciar um filme, mesmo porque existe a chamada suspensão de descrença, ou seja, o espectador “compra” uma ideia e decide acreditar nela. A questão aqui não é filosófica e sim dramatúrgica. Enquanto o livro tem o mérito de apresentar personagens tridimensionais, no filme eles são bastante rasos. Como se Mia e sua família fossem protagonistas de uma peça publicitária ou filme institucional, com uma mensagem bem definida a passar. Sem contar que a produção sacrifica a humanidade da protagonista em favor de uma visão exageradamente adocicada. A representação de Mia como menina tímida e certinha chega a interferir no figurino de Chloë Grace Moretz, que usa uma roupa leve e cheia de rendinhas para sair em um dia de neve.

Também as cenas em flashback – que têm como função mostrar como foi a vida de Mia até aquele instante – carregam todos os clichês imagináveis: a garota retraída com pais moderninhos que chama a atenção do carinha descolado da escola justamente por ser diferente, os hesitantes primeiros encontros, o jantar em família, os inevitáveis conflitos e discussões bobas, sendo a pior delas quando ela esconde dele algo que fatalmente viria à tona, etc. Tudo muito previsível, do começo ao fim. Chloë Grace Moretz é uma gracinha, mas precisa começar a escolher melhor seus trabalhos. Indicado para adolescentes ou aficionados com temas como experiência de quase morte ou viagens para fora do corpo.  

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