quarta-feira, 24 de setembro de 2014

O Sal da Terra (filme de abertura)


O filme faz um retrospecto dos 40 anos de carreira de Sebastião Salgado, intercalando sua biografia com os temas escolhidos para seus famosos ensaios fotográficos ao redor do mundo. Das denúncias sociais e causas humanitárias às questões ecológicas, a vida do fotógrafo é reconstruída pelas lentes do filho Juliano em parceria com o cineasta alemão Wim Wenders. Vencedor do Prêmio do Júri da mostra Un Certain Regard do Festival de Cannes deste ano.

Não se pode negar que Sebastião Salgado é um dos grandes artistas da fotografia no mundo, e um dos maiores méritos deste documentário é justamente a oportunidade de ver parte de seu trabalho ampliado para uma tela de cinema. Da beleza de uma paisagem desértica aos horrores do genocídio de Ruanda, não tem como ficar indiferente à força esmagadora de tais imagens. E esse é um atrativo do filme que beneficia tanto quem já conhece o trabalho de Salgado como quem o está contemplando pela primeira vez.

Como obra cinematográfica, porém, O Sal da Terra peca pelo excesso de reverência ao mestre. O tom não é exatamente o de um documentário e sim de uma homenagem apaixonada que exalta o fotógrafo – não somente como profissional, mas também como pessoa – de tal maneira que o coloca numa dimensão de herói sem mácula. Ao pintar um retrato sem nuances, o filme acaba por negar a seu homenageado a dimensão humana. Sente-se falta de um Sebastião enriquecido por suas fraquezas ou de alguma menção a críticas feitas às suas imagens mais fortes (o que, de certo modo, até engrandece as mesmas). O roteiro por vezes também parece indeciso entre focar em Salgado e suas motivações ou aprofundar-se nos assuntos por ele fotografados, impasse que poderia ter sido solucionado com uma edição mais rigorosa.   

O Sal da Terra (Salt of the Earth), de Juliano Ribeiro Salgado e Wim Wenders. Com Sebastião Salgado. Fra/Ita/Bra, 2014. 109’. 



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