segunda-feira, 4 de maio de 2009

Tom e Vinícius – O Musical


Ainda está em tempo para os cariocas assistirem ao vibrante Tom e Vinícius – O Musical. O espetáculo, que completou 100 exibições no Rio de Janeiro no último sábado, segue no Teatro Carlos Gomes até 31 de maio. A peça estreou em São Paulo em setembro de 2008 e desde janeiro deste ano vem encantando os cariocas, ao recriar os primeiros dez anos da parceria entre Tom Jobim e Vinícius de Moraes.

O texto, escrito por Daniela Pereira de Carvalho (a mesma autora de Renato Russo) e Eucanaã Ferraz, opta pela simplicidade e pela nostalgia assumida. A peça se inicia em 1956, quando Vinícius convida o jovem Tom para a primeira parceria: musicar sua peça Orfeu da Conceição. A partir daí, o espetáculo pontua, de forma episódica, os principais fatos que ocorreram nestes dez anos, sempre mantendo em foco a forte amizade que unia o discreto e pacato Tom ao exaltado e sempre apaixonado Vinícius.

Embalado por ótimos números musicais, o público passeia por menções a acontecimentos como os ensaios de Orfeu da Conceição e também a posterior versão cinematográfica realizada pelo francês Marcel Camus (que os dois odiaram, mas ganhou um Oscar), as gravações do disco Canção do Amor Demais (no qual Elizeth Cardoso canta músicas da dupla), o estouro mundial da bossa nova e o polêmico concerto do Carnegie Hall. No campo pessoal, alguns detalhes reforçam as personalidades opostas dos dois gênios, como, por exemplo, a união tranquila de Tom com Teresa e os dramáticos encontros e desencontros de Vinícius com duas das nove esposas que teve, Lila Bôscoli e Lucia Proença – ambas interpretadas pela elegantérrima Guilhermina Guinle.

Numa interpretação inspirada, Thelmo Fernandes incorpora o jeito brincalhão e sedutor do nosso famoso Poetinha. Intelectual, boêmio, carismático, apaixonado pela vida e pelo momento presente, insuperável com as palavras, Vinícius de Moraes tinha fama de conseguir convencer qualquer pessoa a fazer qualquer coisa – ainda mais se fosse uma bela mulher. Recriar com credibilidade todas as facetas desse artista complexo e ainda tão vivo, tão presente na nossa memória, está longe de ser tarefa fácil. Mas Thelmo, experiente em musicais e talentoso à toda prova, enche o personagem de graça e humanidade e supera o desafio com louvor.


Igualmente árdua é a tarefa de Marcelo Serrado, justamente por interpretar a metade mais introvertida da dupla. Como fazer o genial porém tímido maestro não ser ofuscado diante do explosivo Vinícius? Com equilíbrio, charme e simpatia inquestionáveis. Recriando os gestos, o modo de falar, o tão característico cantarolar ao piano. Aos poucos, aquele jovem Tom de fala mansa vai se impondo como um contraponto ao enérgico Vinícius. E os dois, juntos, se complementam e emocionam o público ao retratar sua amizade afetuosa e desinteressada e a visão de um Rio de Janeiro que ainda fervilhava de esperança. Vale ressaltar que os dois atores, além de suas qualidades interpretativas e musicais, também têm ótima química e dão grande credibilidade ao espírito de cumplicidade entre seus personagens.

Durante duas horas de espetáculo, desfilam no palco clássicos como Chega de Saudade, Carta ao Tom, Samba do Avião, Águas de Março, Desafinado, Samba de uma Nota Só, Se Todos Fossem Iguais a Você, Ela é Carioca e, claro, o ícone Garota de Ipanema, com direto a uma sensacional recriação do encontro musical de Frank Sinatra e Tom Jobim. Outro momento que vale destacar – e que talvez seja o mais belo de toda a peça – é a cena em que Thelmo/Vinícius fala com ternura e emoção sobre o fim de seu amor por Lila Bôscoli, tendo ao fundo projeções da Cidade-Luz. No outro canto do palco, Marcelo/Tom senta-se ao piano e, acompanhado da bela e potente voz de Lilian Valeska, executa Eu Sei Que Vou te Amar.

Além das músicas, o espetáculo utiliza-se de frases ditas pelos homenageados e também de alguns trechos de versos famosos do Poetinha, como o Soneto da Separação e o Soneto de Fidelidade (aquele que fala que o amor deve ser infinito enquanto dura). Os demais atores do elenco, além de interpretarem os números musicais, incorporam personalidades com as quais conviveram os protagonistas – o que inclui ícones como Dolores Duran, Frank Sinatra e Elizeth Cardoso. Destaque para Carol Bezerra e Marilice Cosenza e suas ótimas personificações de Elizeth e Dolores.

Mas como finalizar uma história que narra apenas um pequeno período de duas vidas que foram tão além do que é retratado naquele breve recorte? A solução não podia ser mais eficiente. Numa conversa de bar cheia de camaradagem, Tom e Vinícius profetizam um para o outro um resumo do que ainda vai lhes acontecer dali em diante. Simples, bonito e muito emocionante. A platéia, entusiasmada, aplaude freneticamente. Foi uma bela noite.

Tom e Vinícius – O Musical. Texto: Daniela Pereira de Carvalho e Eucanaã Ferraz. Direção: Daniel Herz. Com Thelmo Fernandes, Marcelo Serrado, Guilhermina Guinle, Lilian Valeska, André Araújo, Carol Bezerra, Marilice Cosenza, Pedro Lima, Julia Gorman, Ana Ferraz, Luiz Nicolau, Ricardo Conti, Luciana Bollina, Marcelo Rezende. 120 minutos.

Teatro Carlos Gomes (Praça Tiradentes, 19 – Tel: 2232-8701), quinta a sábado às 20h; domingo às 18h. Ingressos a R$30 (qui) e R$40 (sab a dom).

2 comentários:

  1. Olá, erika primeira vez que eu posto no seu blogspost alías, parabéns ele tem conteúdo e cheira ARTE. Vou fazer de tudo para ver, essa peça TOM E VINÍCIUS será mina primeira vez num teatro nunca assiti peça indo ao teatro ver uma peça. Só, assisti peça dentro da escola. Beijos seu blog é show vc entende de ARTE E BOA CRÍTICA. beijos!!! Ester RJ

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  2. Cara Ester,

    Essa peça realmente é uma ótima oportunidade para que você vá ao teatro. Certamente vai pegar gosto e querer ir outras vezes. Mas não esqueça: a temporada acaba no dia 31 de maio.

    No mais, obrigada pelas palavras e espero que continue visitando o blog.

    Beijos,

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