segunda-feira, 18 de maio de 2009

Trovão Tropical


Um filme com Ben Stiller é sempre uma caixinha de surpresas. A extensa filmografia do comediante americano tem de tudo um pouco, desde produções bacanas como Tenha Fé e Quero Ficar com Polly até abacaxis como Antes Só que Mal-Casado e Escola de Idiotas. O que esperar então de um filme estrelado, escrito e dirigido por Ben Stiller? Difícil arriscar um palpite, ainda mais se lembrarmos que sua última incursão atrás das câmeras foi o bizarro Zoolander. Felizmente para Ben e para o público em geral, o divertidíssimo Trovão Tropical figurará com muito mérito na coluna de acertos do ator.

O roteiro, escrito em parceria com Justin Theroux e ninguém menos que Ethan Coen, acompanha os bastidores de um épico de guerra filmado no Vietnã. À frente do elenco estão um astro de filmes de ação em plena decadência (Stiller), um comediante famoso por comédias escatológicas (Jack Black) e um ator dramático vencedor de cinco Oscars capaz de tudo por um papel, até mesmo pigmentar a pele para interpretar um personagem negro (Robert Downey Jr.). A incompetência da equipe técnica associada aos egos inflados dos protagonistas enlouquecem o diretor inglês inexperiente (Steve Coogan), que resolve tomar medidas drásticas ao ser ameaçado de demissão pelo executivo casca-grossa (Tom Cruise, com uma caracterização muito doida). Desesperado para finalizar o longa, o cineasta resolve dar uma lição em seus mimados astros e levá-los para filmar na selva em condições reais de perigo e fadiga.

Não é de hoje que o cinema se utiliza da metalinguagem para se auto-esculachar. A situação do “filme dentro do filme” por si só já dá margem a milhares de referências não só ao cinema e a outros filmes, mas a situações externas que o público acompanha nos tablóides. Brigas, ciúmes, jogadas de marketing, disputas pelas maiores mordomias, enfim, o mundo das celebridades virado pelo avesso. E a primeira ótima sacada de Trovão Tropical está logo na abertura, com a inclusão de uma série de trailers falsos dos sucessos anteriores dos astros de Trovão Tropical (neste caso, o filme “de dentro”). Destaque para o hilário Beco do Diabo, com Robert Downey Jr – ou melhor, Kirk Lazarus – como como um padre de olho no colega de batina interpretado por Tobey Maguire, em hilária participação-relâmpago como ele mesmo. Vale destacar o capricho desses trailers, que chegam ao requinte de serem precedidos por logotipos de outros estúdios.

Uma vez iniciada a trama propriamente dita, a metralhadora giratória de piadas, referências e paródias não tem mais fim. As sátiras englobam desde filmes sérios como Platoon e Apocalipse Now até a família Klump do Professor Aloprado. Sem contar referências a Al Pacino, Russell Crowe, Forrest Gump, Indiana Jones e até mesmo Madame Butterfly. E claro que não podia faltar uma cena de cerimônia de Oscar, com destaque para Jon Voight aplaudindo de má-vontade o colega que o derrotou. Outro momento impagável é o discurso de Kirk Lazarus sobre como interpretar um deficiente mental de acordo com o gosto da Academia. Detalhe: isso nem é o que há de mais politicamente incorreto no filme. Tem mais, muito mais.

O elenco está sensacional: afinado, homogêneo e com timing para comédia perfeito. A tão comentada caracterização de Downey Jr. está ótima, embora vê-lo louríssimo e depois negro ainda chame menos atenção do que Tom Cruise como um coroa careca e barrigudo. E o bacana é sentir que cada um dos atores entrou no espírito de gozação do filme, deixando a vaidade totalmente de fora do projeto – ao contrário do que fazem os personagens que eles interpretam. Também são engraçadas as participações de Matthew McConaughey como o agente desesperado para manter o único cliente e de Nick Nolte como o veterano de guerra picareta. E o que dizer do técnico de efeitos especiais piromaníaco que sente um prazer mórbido por quase ter cegado Jamie Lee Curtis?

É claro que Trovão Tropical é uma comédia engraçada por natureza, mas pode ser que não seja tão divertida para quem não pescar as múltiplas referências – algumas não são tão explícitas. Ou pode ser que isso não faça nenhuma diferença e o filme simplesmente caia bem em diferentes graus de percepção para cada um. Afinal de contas, o longa foi campeão de bilheteria em seu final de semana de estréia nos Estados Unidos e rendeu uma indicação ao Oscar 2009 de melhor ator coadjuvante para Robert Downey Jr.

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