terça-feira, 20 de abril de 2010

Alice no País das Maravilhas


A esperada estreia de Alice no País das Maravilhas deve trazer para os fãs de Tim Burton um estranho misto de felicidade e decepção. Se, por um lado, é muito bom ver um dos maiores cineastas do mundo definitivamente no topo (o longa já é uma verdadeira febre nos States e está fazendo rios de dinheiro), por outro é um pouco frustrante que tamanha popularidade venha por um filme que não tem o mesmo grau de genialidade de obras como Edward Mãos de Tesoura, Ed Wood, A Noiva-Cadáver ou Sweeney Todd. Digamos que o resultado final de Alice não se parece muito com um filme assinado por Tim Burton. Se o filme é bom? Sim, é, mas dentro de uma linha demasiadamente comportada. É Burton versão light. Sem humor negro, perversidade, ironia. O mais curioso é que isso ocorra justamente com um projeto que, em tese, teria absolutamente tudo a ver com o jeito Burton de ser. 

A trama mistura elementos de duas obras de Lewis Carroll, Alice nos País das Maravilhas e Alice Através do Espelho, e também mostra a protagonista mais velha, com 19 anos (ou seja, 13 anos após sua primeira incursão ao país das maravilhas). Alice ainda tem lembranças de Wonderland, mas crê que tudo não passa de um sonho recorrente. Pressionada a se casar e amuada com o que a família e a sociedade esperam dela, Alice segue a aparição de um coelho branco de casaca pelo jardim, deixa fluir a imaginação e redescobre o caminho para sua grande aventura passada. Chegando a Wonderland, ela se encontra novamente com figuras como o Chapeleiro Maluco, o Gato de Cheshire e a Lagarta Azul e descobre que a desvairada Rainha Vermelha está dominando tudo e todos com mão de ferro.


Dois personagens muito interessantes são a psicodélica lagarta Absolum – sempre muito doidona com seu narguilé – e o etéreo e travesso Gato de Cheshire. Com as vozes de Alan Rickman e Stephen Fry, respectivamente, os dois são, de longe, os melhores personagens digitais do filme. Do pessoal em carne e osso (mas nem tanto), quem carrega o filme nas costas é Helena Bonham Carter e sua cartunesca Rainha Vermelha. Com sua cabeçorra descomunal e sua vozinha de criança malvada, a simples aparição da personagem em cena já é um acontecimento. A sua demência e surrealismo dão um breve vislumbre do tom que o filme inteiro poderia (e deveria) ter. Já a tão aguardada performance de Johnny Depp como o Chapeleiro Maluco é apenas correta – e os que me conhecem sabem que é com a maior dor no coração que eu digo isso. Mia Wasikowska, a Alice, cumpre seu papel sem grande brilho e a Rainha Branca de Anne Hathaway beira a chatice em sua afetação.

Com um visual que carrega muito mais no pop do que no dark burtoniano e com efeitos 3D usados com moderação, o filme impressiona bastante pela riqueza visual e peca pela fragilidade do roteiro. O que mais incomoda em Alice é o modo como a trama progressivamente se encaminha para a aventura juvenil em sua segunda metade, com a protagonista se transformando em uma espécie de “escolhida” para derrotar o mal. Não é à toa que tem gente por aí comparando o filme com coisas como As Crônicas de Nárnia. Comparação exagerada, mas é certo que o rumo tomado pelo roteiro afasta a história de seu característico universo nonsense.

Dentro desse panorama, Alice pode acabar sendo um Burton mais adequado a quem não curte muito o habitual estranho mundo de Tim. Para o público em geral, o cineasta entrega um bom exemplar de cinemão para encher os olhos de toda a família. Mas, para os fãs, ele ficou devendo. Sexta nos cinemas.

4 comentários:

  1. Frustrando ou não as expectativas, estou LOUCO para ver este filme - e em 3D! Sempre achei a história de "Alice no País das Maravilhas" uma coisa perturbadora e Tim Burton sempre pareceu um nome ideal para conduzir uma versão para cinema que não seja animada.

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  2. Erika, tenho certeza que Burton deixou a desejar, sim, com esse filme. Tive a mesma impressao quando saí do cinema ontem, depois de quase duas horas na fila, aguardando o ingresso. Pior é que os recursos 3D não o salvaram de ser demasiado chato. Ficamos decepcionados. Como disse, talvez tenha sido a falta do humor negro, que aquela Alice quase Alice poderia encarnar bem ao modo Tim Burton. Ademais, o filme ficou entre o colorido e descolorido de ambientes e personagens que bem conheciamos...
    Mas é vero: tinha um cheiro desse universo de bruxas e heróis lenga-lenga.

    Abraço.

    Adalberto dos Santos.

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  3. Olá Erika, Nunca comentei por aqui. mas adoro ler o conteúdo do seu blog. Parabéns, ótimas dicas da Sétima Arte.

    Renato Fernandes

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  4. Obrigada, Renato, e fica à vontade para comentar sempre que quiser. Esse retorno é muito importante para o blog.

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