quinta-feira, 5 de abril de 2012

Jovens Adultos


Jason Reitman dirigiu apenas quatro longas-metragens, e conseguiu somar acertos em todos eles. Depois de debutar com o provocador Obrigado por Fumar, conseguiu grande projeção já em seu filme seguinte, Juno, que, além de ter dado à roteirista Diablo Cody o Oscar de melhor roteiro original, carimbou a primeira indicação de Jason como melhor diretor. O ponto alto de sua filmografia foi Amor Sem Escalas, sem dúvida o mais maduro em sua carreira. Embora seus filmes pareçam diferentes entre si – e o são – restam alguns pontos em comum, como os diálogos afiados e um olhar inusitado sobre as relações humanas. Sua visão, embora tenha sempre uma pegada sarcástica, é, ao mesmo tempo, carregada de humanidade.

Se Juno girava em torno de uma adolescente centrada demais para sua idade, Jovens Adultos traz Charlize Theron como uma mulher feita cuja maturidade ficou estacionada pelo menos uma década antes. A brilhante frase que estampa o cartaz do filme resume bem o ponto nevrálgico da trama: “todos envelhecem. Nem todo mundo cresce.” Maturidade definitivamente não é um termo que se pode associar a Mavis Gary, trintona que ainda fala, vive e pensa como a adolescente popular que foi um dia. Tanto que seu trabalho é justamente escrever uma série de livros de ficção de temática adolescente, cujo material costuma “enriquecer” ouvindo conversas de garotas na rua e captando frases alheias para seus personagens. A expressão que dá título ao filme, aliás, é como se chama esse tipo de segmento literário.

Desorganizada, confusa e impulsiva, a simples notícia de que seu namorado dos tempos do colégio está bem casado e com um filho recém-nascido é o suficiente para despertar em Mavis a certeza de que a solução para seus problemas é tomar de volta o que deveria ser seu por direito. Para reconquistar Buddy Slade, Mavis passará por cima até mesmo do asco que sente pela cidadezinha do Minnesota onde foi criada, partindo de uma lógica que seria absurda para qualquer pessoa razoável. É claro que esse recorte em sua vida mostra problemas de ajuste à vida adulta que vem de longe, como podemos constatar pelas cenas que mostram como Mavis lida com problemas de trabalho ou de qualquer outra ordem. O que leva a pensar: quantas crianças em corpos de adultos estão à solta por aí, vivendo vidas aparentemente independentes?


Charlize Theron faz um trabalho absolutamente fantástico como Mavis Gary, uma montanha-russa de bipolaridades que passa da apatia de algumas cenas para a euforia desenfreada de outras. Não é de hoje que a bela atriz não hesita em se arriscar em personagens limítrofes, basta lembrar que ela ganhou um Oscar interpretando uma embrutecida serial killer. Com Mavis, o desafio é nos fazer enxergar a fragilidade de uma protagonista bastante irritante, que tem atitudes antipáticas e extremamente egoístas o filme inteiro.

Jovens Adultos não chega a ser um filme tão redondo como Amor Sem Escalas, perdendo um pouquinho de sua força inicial justamente perto do desfecho, mas sem dúvida é mais um acerto tanto na filmografia do notável Jason Reitman como na galeria de personagens da talentosa Charlize Theron – sua interpretação certamente deveria ter sido mais lembrada nas premiações deste ano. Vale muito a pena conferir. Amanhã nos cinemas.

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