sábado, 12 de maio de 2012

Pisa, Siena e San Gimignano – Um giro pela Toscana


Tomando Firenze como base, é possível conhecer algumas cidades encantadoras em pequenas excursões de um dia, sem necessidade de pernoite. A apenas uma hora de trem, se chega a Pisa, célebre por sua torre inclinada. A Torre Pendente di Pisa é uma coisa linda de doer os olhos. É mais ou menos a sensação de ver o Coliseu pela primeira vez, ou seja, é um ponto turístico famoso pra caramba, você provavelmente já viu milhões de fotos, mas nada pode preparar para a visão surrealista daquele campanário de mármore branco saindo todo torto de um gramado verdinho, parece que uma nave alienígena acabou de aterrissar ali. Tem as atitudes clássicas de todo turista, como a indefectível foto de longe alinhado com a torre, de modo a simular estar empurrando ou segurando a construção.

Vale dizer que, fora o Campo dei Miracoli, Pisa é uma cidade comum, porém o conjunto arquitetônico formado por torre, catedral e batistério é deslumbrante. Mas caro. Só pra subir na torre são quinze euros e em Pisa não tem aquela facilidade do ingresso integrado, conforme acontece em algumas outras cidades. São bilhetes separados para a torre, o Duomo, o batistério e o Museo dell’Opera, embora as atrações fiquem todas dentro do mesmo gramado – mas não dá para pensar em economia diante de um dos monumentos mais famosos do mundo. Como o número de visitantes para a torre é limitado a vinte pessoas a cada vinte minutos, é sempre bom comprar ingresso para outra coisa enquanto espera seu horário para a torre ou comprar ingresso e aproveitar o hiato para almoçar. O Duomo é belíssimo, mas não tanto quanto o de Firenze, ao passo que o Museu dell’Opera – acho que todas as cidades italianas possuem um “Museu dell’Opera” ao lado de seu Duomo – é meio sem graça.

Voltando à torre, é preciso dizer que a empolgação inicial de entrar em um dos monumentos mais conhecidos do mundo rapidamente vai cedendo lugar ao cansaço, conforme se avança sobre os trezentos degraus que separam o turista do observatório no topo. Concebida inicialmente com o objetivo de ser um mero campanário para harmonizar com o Duomo e o batistério já existentes, a Torre de Pisa começou a apresentar sua famosa inclinação por ocasião da construção do terceiro anel (são oito, no total). Recentemente, novas obras foram feitas no sentido de minimizar essa inclinação, que hoje é considerada em nível seguro para a visitação. Mas, ainda assim, vários cuidados são tomados, como a restrição a poucas pessoas e o acompanhamento constante dos funcionários. Ao chegar ao topo, a vista compensa. E não só a vista, somente lá em cima os efeitos da inclinação se fazem realmente evidentes. É uma sensação surrealista, chegando, inclusive, a dar um pouco de medo. A construção foi feita em fases, tendo se iniciado em 1173 e prolongando-se ao longo de quase dois séculos. A obra foi interrompida algumas vezes, não somente pelos problemas de estrutura, mas também porque os pisanos viviam imersos em batalhas contra reinos vizinhos, como Lucca, Genova e Firenze.

Pisa vista do alto de sua famosa Torre Pendente

A rivalidade entre cidades próximas é outro ponto que o visitante só descobre depois de algum tempo na Itália e conversando muito com o cidadão. Todos tem muito orgulho de sua cidade e contam curiosidades e detalhes da cultura regional. E o que se percebe é que o italiano, no final das contas, é muito mais fiel a sua cidade de origem do que ao país como um todo, o que é natural se considerarmos que uma cidade como Firenze, por exemplo, já era uma grande potência no século XII enquanto a Itália, como país unificado, tem somente 150 anos. Na Toscana, a relação mais tumultuada é entre Firenze e Siena, não apenas pela proximidade geográfica, mas também por Siena ter sido o reino que, em tempos passados, chegou mais perto de rivalizar com Firenze pela supremacia toscana. Mas isso antes de ser castigada sem piedade pela peste e, em decorrência disso, perder muito de seu potencial.


Siena é, ainda, onde acontece o famoso Palio di Siena, uma corrida de cavalos na qual as dezessete contrade (distritos) que formam a cidade competem entre si. A origem dessa divisão data da Idade Média, quando os cidadãos eram recrutados para defender a cidade e faziam questão de manter explícita uma identidade em relação a seu local de origem. Com o tempo, cada distrito foi ganhando suas cores, manias, bairrismos, paixões, enfim, virando um microcosmo. Andando pelas ruas, podemos ver por toda parte prédios públicos ostentando as bandeiras coloridas das dezessete contrade. O que equivale dizer que em Siena se eleva a um nível estratosférico esse senso italiano de pertencer à sua região. Lá, o pessoal mantém identidade com 1/17 de uma cidade. Não dá para ser mais regional do que isso. 


O sienense detesta o fiorentino com todas as suas forças. Não perde uma oportunidade de falar mal, fazendo isso muitas vezes de um modo totalmente gratuito. Chega a ser engraçado. Em apenas um dia na cidade, tive dois exemplos disso. O primeiro foi numa loja de óculos, quando o vendedor, ao saber que eu estava morando em Firenze durante aquele mês, declarou com orgulho infantil que o modelo que eu estava comprando não tinha na filial de Firenze – justiça lhe seja feita, não tinha mesmo. Depois, ao procurar a estação ferroviária, pedi informações a uma senhora que quis saber de onde eu era. Expliquei que era brasileira, mas estava vivendo em Firenze no momento. Ela me olhou penalizada e disse que sentia muito por mim, porque Firenze estava repleta de gente bruta. Cabe esclarecer que isso não é absolutamente verdade, apenas um exemplo do forte senso de identidade regional do povo italiano, que parece ser ainda mais acirrado no cidadão toscano.

A Piazza del Campo, onde acontece anualmente o Palio di Siena

Outra cidade que vale a pena conhecer na Toscana é San Gimignano, famosa por suas incontáveis torres. O melhor modo de chegar a San Gimignano saindo de Firenze é pegar o mesmo ônibus que vai para Siena e fazer baldeação em Poggibonsi, uma minúscula cidadezinha industrial que serve de entreposto para a troca de ônibus. Saindo cedinho, é possível conhecer Siena e San Gimignano em apenas um dia, já que San Gimignano pode ser percorrida em quinze minutos a pé. A cidade é totalmente encantadora com suas muitas torres e construções em pedra, levando o turista de volta à Idade Média. Não tem uma construção sequer em toda a cidade que não pareça saída de um filme de capa-e-espada.


San Gimignano, incrustada entre montanhas, chama a atenção de longe pelo desenho formado por suas imponentes torres de pedra. A cidade já chegou a ter setenta e duas delas, hoje em dia restam catorze e somente uma – a Torre Grossa – é aberta para visitação. Imperdível a vista área. Uma coisa engraçada é que uma cidade tão pequenina e fofa conte com nada menos que três museus sobre a tortura. Já tinha visto coisas semelhantes em Firenze e Siena (deve ser um barato toscano), mas ver isso em dose tripla em um lugar tão minúsculo foi espantoso. O mais famoso deles fica na Piazza della Cisterna, bem em frente ao poço antigo, e exibe autênticos instrumentos de tortura da era medieval. Bizarro.

San Gimignano vista do alto da Torre Grossa

Em breve, o Viajandão trará mais alguns aspectos culturais de cidades italianas pouco visitadas pelo turista em geral. Aguardem os próximos textos!


2 comentários:

  1. Oi Erika estou indo a Roma e tenho apenas um dia pra ir na Toscana. Como vou agora em Julho e vi que a torre Pisa fica aberta até as 22:00 pensei em fazer o seguinte roteiro: pegar um trem em Roma as 07:55 que chega em Florença as 09:17. Ficar em Florença até umas 16:00 e depois ir para San Gimignano ( vi que tem trem que sai de la p Poggibonsi as 16:10 mas não sei o horario de lá pra San Gimignano e qual a melhor forma de ir:/ ) e a noite por volta das 19:00 seguir pra Pisa aonde ficarei até as 02:00 da manhã de onde pego um trem a noite pra ir a Napolis . Você acha que consigo fazer esse roteiro?! Pode me orientar e me sugerir a melhor forma de realiza-lo por favor?! Muito obrigada.

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  2. Olá,
    Não é que você não consiga fazer, mas vai ficar mais tempo correndo de um lado para o outro do que propriamente vendo os lugares. Um dia para a Toscana? Eu acho que um dia não dá nem para ver Florença direito. Claro que, no caso de Pisa, o mais interessante é mesmo a Torre, mas você chega lá, tem que comprar o ingresso e às vezes só tem vaga para uma hora depois (a quantidade de pessoas por vez é limitada por motivos de segurança) e com isso perde-se tempo. San Gimignano é pequena sim, mas chegar lá também leva um tempinho. O modo mais simples é um ônibus da empresa SITA, perto da estação de trem, mas não é direto. Você pega o que vai para Siena, desce em Poggibonsi e troca de ônibus. Enfim, existe o deslocamento e às vezes você tem que esperar um tempo entre os ônibus, e aí em uma situação dessas cada minuto que seria de prazer vira estresse se demora um pouco, etc. Eu evitaria essa programação tão intensa, para curtir a Toscana tem que estar mais relaxado, comer bem, beber um vinho,coisas que não têm graça se você estiver com pressa. Se você realmente tem apenas um dia e não tem possibilidade de prolongar, eu aconselharia a ir somente a Florença devido não somente à sua beleza como também à sua importância histórica e cultural. Mesmo assim, você teria que otimizar bastante essas horas para conseguir conhecer a cidade (que, na minha opinião, é a mais linda do mundo). Espero ter ajudado, e querendo perguntar algo mais esteja à vontade!

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