sexta-feira, 25 de maio de 2012

Um dia de degustação no Vale do Chianti


Para quem está visitando a Toscana e tem um dia livre, uma excelente oportunidade é conhecer uma das muitas vinícolas do Vale do Chianti, região que fica ali entre Firenze e Siena. A denominação dada aos vinhos segue dois princípios básicos, que se referem ao tipo da uva ou à região que os produz. Assim, enquanto um Cabernet ou Merlot pode ter diversas nacionalidades, já que recebem este nome pelo tipo da uva, um Bordeaux ou Champagne só é legítimo se for produzido nas regiões citadas. É esse o caso do Chianti, vinho tinto toscano produzido basicamente ao redor do município de Greve in Chianti.

Diversas agências de turismo fiorentinas promovem passeios a vinícolas da região. Na escola em que eu estudava em Firenze, alguém havia me dado um folheto com alguns passeios e atividades promovidas por uma agência de turismo chamada Florence for Fun. Um dos passeios listados era o que eles chamavam de Passeggiata nel Chianti, ou seja, uma caminhada turística pelos vinhedos seguida por um almoço de degustação na própria vinícola. O preço era convidativo (na época, 40 euros, tudo incluso), a única coisa que pesava contra (no meu caso) era minha reticência de fazer passeios em grupo. O problema é que normalmente não se faz um programa desses por conta própria, já que as vinícolas costumam abrir suas portas apenas para grupos.


Pesando os prós e contras, me muni de algum espírito de aventura e fui em frente. Chegando ao ponto de encontro, tive meu primeiro lampejo de arrependimento. Um ajuntamento enorme de adolescentes americanas em fúria fazia um rumor dos diabos. Falavam entre si – em inglês, claro –, o que levou os dois guias que acompanhavam o grupo a começarem a se dirigir a todos no idioma reinante. Ainda tentei me impor, mas eles pareceram até um pouco perplexos quando me dirigi a eles em italiano. Eles tinham folhetos sobre o que iríamos visitar, mas nenhum exemplar em italiano. Va bene.

Uvinha Chianti, ainda bebê

Mas e o passeio? Bom, a caminhada pela plantação é um pouco cansativa, mesmo porque era alta primavera e estava um sol quentíssimo. Os dois guias faziam o estilo mineirinho, ou seja, diziam sempre que era logo ali e tome longas caminhadas. Sempre ladeira acima. Mas é claro que para quem está acostumado a fazer trilha ou caminhadas extensas o esforço compensa, já que é bem interessante conhecer de perto uma plantação, ver as videiras de perto e ouvir as explicações sobre todo o processo de fabricação de vinho. A caminhada leva cerca de duas horas e certamente tem uma função aperitiva, porque quando o grupo finalmente alcançou a cidadezinha rumo à sede da vinícola, todos só queriam mesmo saber de comer e beber. E, nesse ponto, fomos muito bem recompensados.

Chegando à minúscula Panzano, um dos pequenos distritos que compõem Greve in Chianti, fomos recebidos na fattoria da família Sassolini, que está no ramo de produção de vinho e azeite desde o século XII. Isso é outra coisa que impressiona na Itália, essa longa tradição de determinado ofício nas mãos de uma mesma família. Enquanto aqui no Brasil estar em qualquer ramo há cento e poucos anos já denota um alto grau de excelência, por lá para ser considerado tradicional mesmo tem que estar no ramo há séculos e séculos.

Lorenzo Sassolini (de pé): show de conhecimento, simpatia e hospitalidade

O simpático Lorenzo Sassolini, que é quem atualmente dirige o negócio com a irmã, preparou um cardápio de degustação onde cada um dos vinhos era servido junto com uma iguaria difererente. Variações bem distintas do vinho Chianti, começando com um mais adequado aos antepastos, passando por outros que caíam melhor com determinado tipo de comida, enfim, o visitante tem a oportunidade de ouvir um especialista no assunto ao mesmo tempo em que comprova o que ele diz com o paladar. Além de explicar as propriedades e o que combinava com qual vinho, Lorenzo ainda dava breves explicações sobre o processo de envelhecimento de cada um.

Depois dos vinhos propriamente ditos, ainda pudemos provar o vinsanto, que é um vinho doce, meio licoroso, acompanhado de cantuccini – uma espécie de cookie de amêndoas. Para degustar à moda toscana, o cantuccini deve ser mergulhado dentro do copinho de vinsanto. Parece meio esquisito, mas creiam-me, é uma delícia. Ao final de tudo, para encerrar a comilança, uma dose de grappa, que é uma aguardente feita com a casca da uva que possui 40% de teor alcoólico. Os italianos dizem que não tem nada melhor para a digestão e deve ser verdade, porque eu não senti absolutamente nada depois dessa orgia gastronômica.

Claro que, ao final do dia, o grupo todo volta dormindo e feliz no ônibus. Vale lembrar que é bom verificar antes com a agência o tipo de passeio que será feito, ou seja, se ele incluir a tal caminhada pelo vinhedo antes do almoço de degustação é bom estar preparado e gostar de caminhar. Para quem estiver disposto, com certeza é uma opção mais enriquecedora. E para os que se interessarem em conhecer o Chianti, comprado aqui mesmo, uma dica simples: para não ter erro, verifique se o rótulo traz a sigla DOC (Denominazione d'Origine Controllata) ou DOCG (Denominazione d'Origine Controllata e Garantita), o que garante a legitimidade do produto. 


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