quarta-feira, 10 de julho de 2013

A Bela Que Dorme


Estreia nesta sexta o novo filme de Marco Bellocchio (Bom Dia, Noite e Vincere), uma ficção que tem como pano de fundo uma história real que polarizou a opinião pública italiana ao longo de muitos anos: Eluana Englaro tinha apenas vinte e dois anos quando sofreu um acidente de carro que a deixou em estado vegetativo e se tornou símbolo de uma longa batalha entre militantes pró e contra eutanásia. A questão se arrastou na justiça por 17 anos – com reviravoltas que incluíram até uma intervenção do então premier Silvio Berlusconi – até que, em 2009, Beppino Englaro finalmente ganhou o direito de remover o tubo de alimentação para que a filha morresse naturalmente.

Neste La Bella Addormentata, ambientado às vésperas da decisão definitiva sobre o caso, a situação de Eluana é o ponto de partida para uma reflexão mais ampla a respeito da vida e da morte. No calor das manifestações, as histórias personagens com opiniões diversas sobre o assunto se sobrepõem: um senador precisa decidir entre votar de acordo com seu partido ou com a própria consciência; sua filha Maria, uma ativista pró-vida, vai para as ruas protestar e se envolve com Roberto, que não liga muito para política, mas precisa ficar de olho no irmão mais novo, bipolar e afeito a acessos de raiva; uma famosa atriz se apoia na fé e acredita na recuperação da filha, em coma irreversível há anos, enquanto seu outro filho e seu marido sentem-se excluídos e abandonados; por fim, uma viciada em drogas quer morrer e encontra um jovem médico determinado a salvar sua vida a todo custo.

O mais interessante no filme é o modo como Bellocchio dá voz a todos os pontos de vista, sem fazer juízo de valor a respeito de nenhum e muito menos induzir o espectador em favor de um ou outro personagem. Embora esse olhar imparcial possa não agradar a todos, é sempre interessante quando um cineasta deixa a seu público a tarefa de tomar um partido. Ou não. O filme não quer provar uma tese nem apontar protagonistas e antagonistas e sim mostrar que em discussões complexas assim não existem realmente conceitos como “certo” ou “errado”. Porém o grande paradoxo é que a maior qualidade do filme acabe minando um pouco de seu impacto também, por vezes fazendo com que tudo pareça asséptico demais.


O ótimo elenco é encabeçado por Toni Servillo – talvez o melhor ator italiano da atualidade – e pela diva francesa Isabelle Huppert, trazendo, ainda, alguns jovens atores italianos em ascensão, como Maya Sansa, Alba Rohrwacher e Michele Riondino.

Quando apresentado em Veneza, na edição passada, o filme foi recebido com muito entusiasmo e ovacionado durante dezesseis minutos. Estranhamente, saiu do Festival sem nenhum "Leão", tendo que se contentar com dois prêmios menores: o Brian (para filmes de valor humanitário ou social) e o Marcello Mastroianni (para jovens atores) dado a Fabrizio Falco. 

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