quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

A Grande Beleza


Depois de realizar um longa em inglês (Aqui É o Meu Lugar, estrelado por Sean Penn), o cineasta italiano Paolo Sorrentino retorna à terra natal em grande estilo com esse filme que vem sendo considerado um olhar atualizado sobre aquela geração italiana que se esbaldou na “doce vida” retratada por Federico Fellini. A comparação até procede, mas A Grande Beleza tem identidade própria e seus incontáveis méritos não estão em absoluto atrelados ao filme de Fellini.

O filme é centrado na perspectiva do protagonista Jep Gambardella sobre a vida noturna de Roma, que se confunde com sua própria trajetória pessoal. Jornalista, escritor de um único romance e boêmio em tempo integral, Jep acaba de completar 65 anos e se encontra em um momento de reflexão sobre as escolhas feitas e as oportunidades perdidas ao longo de sua vida. Em torno dele, gravita toda uma fauna de celebridades instantâneas, pseudo-intelectuais, novos-ricos, nobres decadentes, religiosos pop stars, artistas, prostitutas, políticos corruptos, enfim, um caldeirão esfuziante de personagens envoltos em uma aura mística que transita entre o sonho e o pesadelo em uma cidade que apaixona e consome quem nela habita.


A Grande Beleza, assim como a Roma mostrada na tela, inebria todos os sentidos: sem que o espectador se dê conta, logo estará irremediavelmente cativo e refém da poesia das tomadas deslumbrantes, dos diálogos cínicos e inteligentes, da atmosfera de sedução e, sobretudo, da interpretação magnética de Toni Servillo – simplesmente o melhor ator italiano em atividade. A visão sarcástica e, ao mesmo tempo, cheia de afeto de Sorrentino se reflete na dicotomia entre cenas da mais doce poesia (como a tomada onde a nobre falida escuta uma gravação sobre si mesma em um museu) e momentos de pura acidez, nos quais o diretor não poupa ninguém e ironiza o jogo de aparências de toda uma sociedade. Poucos filmes retratam uma cidade de modo tão extremo como este: a Roma de Sorrentino é tão assustadoramente bela que pode ser terrível, perigosa, mortífera – como o canto da sereia. Conforme bem define a emblemática sequência inicial, beleza em excesso pode ser fatal.

O filme foi exibido em competição no Festival de Cannes deste ano e acabou saindo de lá sem a Palma de Ouro (que ficou com o francês Azul é a Cor Mais Quente), mas vem ganhando cada vez mais admiradores desde então. Depois disso, foi o grande vencedor do European Film Awards e já é considerado favorito para o Oscar de melhor filme em língua estrangeira. Vale dizer que A Grande Beleza é merecedor de todo e qualquer reconhecimento, por se tratar de um daqueles raros casos de filme que transcende o entretenimento para alcançar o status de obra de arte. Desde já, um clássico!

Nenhum comentário:

Postar um comentário