quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Eu e Você


Resolve-se nesta sexta uma das grandes novelas do circuito nacional: a chegada aos cinemas do mais recente longa de Bernardo Bertolucci, Eu e Você. O filme, que originalmente estava programado para estrear em abril, vinha sendo deixado de lado desde então, a ponto de ter sido incluído no Festival do Rio. Agora parece que sobrou espaço para ele no circuito. Alguns detalhes extratela fazem deste filme um momento particular na carreira do cineasta italiano. Primeiro, por ser o primeiro filme que ele dirigiu depois dos sucessivos problemas de saúde que terminaram por colocá-lo em uma cadeira de rodas; segundo, porque Bertolucci, que sempre demonstrou vocação em ser um cineasta do mundo e uma especial predileção pela França, volta a filmar no próprio país, a partir do famoso romance homônimo de seu conterrâneo Niccolò Ammaniti.

Eu e Você (Io e Te, no original) é centrado em Lorenzo, um adolescente retraído que precisa sempre justificar para os pais o fato de preferir estar sozinho e não ser como os outros garotos de sua idade. No intuito de agradar à mãe, Lorenzo concorda em participar de uma excursão da escola, mas depois tem uma ideia melhor: a de munir-se de refrigerante, videogame e quadrinhos, dentre outros mimos, e esconder-se durante toda a duração do passeio no porão de seu próprio prédio, desse modo dando vazão à sua própria concepção de férias ideais.


Considerando a expectativa, Eu e Você acaba decepcionando, em especial àqueles que leram o comovente livro de Ammaniti, autor que é muito contundente quando se volta para temas tão próprios do universo juvenil como a incomunicabilidade e as dores do crescimento (é também ele o autor do excelente Eu Não Tenho Medo, levado às telas em 2003). Pois bem. O livro é repleto de luta interior, sentimento de inadequação e impotência. Só que aquela radiografia precisa de um menino assombrado por suas dúvidas e incertezas e que povoa de modo tão vívido a história original parece muito diluída e até mesmo pobre de significado nas telas. Especialmente discutível foi a ideia de suavizar o desfecho original, decisão ainda mais inexplicável pelo detalhe do próprio Niccolò Ammaniti ter sido um dos quatro roteiristas. Ou não, pode ser que a pouca personalidade do roteiro derive justamente do fato dele ter passado por oito mãos.

Noves fora, as deficiências sentidas não fazem de Eu e Você um produto ruim. É mais uma sensação de potencial desperdiçado, de algo que poderia ser marcante e acabou resultando apenas “bonitinho”. Mas, no todo, é um filme ao qual se assiste com prazer, especialmente se considerarmos outras produções recentes destinadas ao público jovem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário