quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Carrie, a Estranha


Carrie é a personagem-título do primeiro romance escrito por Stephen King, publicado em 1974, eternizada de vez nas telas dois anos depois pelo filme homônimo de Brian De Palma – que aqui no Brasil ganhou o subtítulo “a estranha”. A trama é bem conhecida: Carrie White é uma adolescente com poderes telecinéticos criada sob a redoma de fanatismo religioso de uma mãe que enxerga pecado em tudo. Como toda pessoa “diferente”, Carrie sofre humilhações e é ridicularizada na escola. Uma das cenas mais emblemáticas do filme anterior e que é reproduzida neste mostra a traumática primeira menstruação, quando as colegas jogam absorventes nela. Até que um dia tudo parece mudar, mas sua tentativa derradeira de buscar a normalidade atrai ainda mais ódio e, ao ser forçada até o limite, Carrie explode em uma vingança desenfreada.

O cinema americano costuma abusar dos remakes, que, na maioria das vezes, são exatamente iguais aos originais – em alguns casos, quadro a quadro. No caso de filmes falados em outra língua que não o inglês isso ocorre pela preguiça congênita do americano médio em ler legendas; já os filmes um pouco mais antigos parecem sofrer a rejeição que o público jovem costuma ter por qualquer coisa rodada com um pouco menos de tecnologia. Entre o primeiro Carrie e este foram feitos, ainda, uma duvidosa sequência em 1999 e um telefilme da trama original em 2002. Portanto, o que esperar desta quarta variação sobre a mesma história?


A princípio, até dá para nutrir algumas esperanças quanto ao filme. Mesmo não apresentando nenhuma abordagem nova no que diz respeito à história, o longa vai se desenvolvendo com dignidade. Chloë Grace Moretz é uma menina talentosa e, verdade seja dita, tem mais carisma do que sua antecessora Sissy Spacek. No papel da mãe alucinada, a nova versão traz uma das grandes divas do cinema atual, Julianne Moore – não deixa de ser curioso que nesta sexta estreiem dois filmes com ela, este e Como Não Perder Essa Mulher. Além do mais, Julianne mescla a loucura de sua personagem com uma afetuosidade inesperada. Os simpáticos Gabriella Wilde e Ansel Egort são Sue Snell e Tommy Ross, o casal popular que resolve ajudar a garota enjeitada e acaba, sem querer, precipitando toda a tragédia.

O problema é que o filme pouco a pouco começa a implodir. A diretora Kimberly Peirce (do visceral Meninos Não Choram) começa a perder o tom e as estribeiras a partir do momento em que Carrie vai para o baile, rumo a seu destino. De repente, a menina paranormal se transforma em uma vingadora onipotente com poderes infinitos. Tudo isso em nome da pirotecnia, do exagero, da falta de bom senso que vai progressivamente dominando o filme, como se toda produção do gênero necessariamente precisasse sacrificar o desenvolvimento de sua história em nome de um show de fogos de artifício. O conceito do mundo da moda “menos é mais” se encaixa perfeitamente para descrever tudo o que saiu dos trilhos neste filme.


Esta nova versão de Carrie, embora não chegue a ser uma heresia completa – como foi, por exemplo, o remake de Psicose cometido por Gus Van Sant –, é um filme que simplesmente não precisava ter sido feito. 

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