sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Um Estranho no Lago


Este é, com certeza, um dos filmes mais surpreendentes do ano. No bom sentido. O diretor Alain Guiraudie ambienta a trama toda nas proximidades de um lago frequentado predominantemente por homens que buscam sexo casual – o que se convencionou classificar “lugar de pegação”. Franck se interessa por Michel, mas ele está acompanhado. Na intenção de revê-lo, Franck passa a frequentar o lago diariamente e acaba fazendo amizade com o solitário Henri, que, curiosamente, procura somente amizade. Até que finalmente Michel se diz desimpedido e Franck tem a oportunidade de ficar com ele, mas começa a desconfiar de que o homem por quem está se apaixonando pode ser alguém muito perigoso.

O incrível neste filme é como Guiraudie (que também assina o roteiro) cria uma teia complexa de relacionamentos, situações e personagens tendo não somente um cenário único, mas também situando toda a história em uma ambientação de encontros casuais. Cada personagem é delineado de modo muito claro e completo, envolvendo o espectador numa atmosfera de suspense e expectativa como poucos filmes conseguem fazer. É um filme que ultrapassa qualquer rótulo reducionista de “filme gay” para se firmar como um retrato perturbador do que Freud classificou como pulsão de morte. E o mais legal é que isso é feito com muito bom humor, mesclando a tensão que pontua a trama central com algumas situações hilárias – destaque absoluto para o voyeur sem noção. Ao final da projeção fica a dúvida se havia algum resquício de moralismo nas entrelinhas, mas a conclusão não importa. Afinal, bons filmes sempre geram algum tipo de debate.


Por fim, é preciso fazer um aviso aos mais conservadores: o longa é repleto de cenas pra lá de explícitas, com direito a muito sexo e até closes de partes de íntimas. Selecionado para a mostra Um Certo Olhar do Festival de Cannes 2013, Um Estranho no Lago venceu um prêmio de melhor direção que havia acabado de ser criado para a mostra. Também foi eleito o melhor filme do ano pela conceituada publicação francesa Cahiers du Cinema. Portanto, o espectador que não se deixar paralisar pela abordagem crua e direta do filme só tem a ganhar.

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