quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Ajuste de Contas


Dois boxeadores rivais até a medula e que aguardam há trinta anos uma revanche que finalmente decidirá quem é o melhor. Cada um perdeu uma única luta na carreira, e foi para o outro. A oportunidade surge somente quando eles estão velhos e fora de forma, mas ambos querem provar que ainda podem recuperar um pouco do brilho e dignidade do passado. Parece familiar a sinopse? Não poderia ser diferente, já que o argumento remete a tantos filmes sobre o universo do boxe. Mas é justamente por isso, por contar com a memória do público sobre o esquema deste tipo de filme, que a comédia Ajuste de Contas funciona tão bem.

Henry “Razor” Sharp e Billy “The Kid” McDonnen são interpretados por Sylvester Stallone e Robert De Niro, o que por si só já é divertido, já que Stallone está desde sempre ligado à imagem de Rocky Balboa e De Niro tem como um de seus mais célebres personagens o boxeador Jake La Motta de Touro Indomável, papel que inclusive lhe rendeu um Oscar. Não faltam piadas referenciais, como, por exemplo, o momento em que o treinador interpretado por Alan Arkin diz a Razor que bater na carne seria anti-higiênico. O filme não se limita a ironizar a carreira dos seus protagonistas e fazer piada sobre a idade avançada dos mesmos, mas também tira sarro de toda aquela fórmula dos filmes de luta que fizeram tanto sucesso na década de 80. Sobram farpas até mesmo para manias mais recentes, como os torneios de MMA.

Stallone já vinha há tempos apostando na autoparódia como alternativa à sua imagem consolidada, a boa surpresa é ver que também um grande ator como Robert De Niro sabe rir de si mesmo. É bem verdade que De Niro vinha participando de muitas comédias nos últimos anos (a maioria delas bastante dispensável), mas talvez estivesse faltando justamente esta pitada de autodeboche. Vale lembrar que no ano anterior vimos o astro em outro filme que ironizava os seus trunfos do passado: A Família, de Luc Besson, trabalhava no mesmo esquema referencial, só que com os papéis de mafioso do ator.


O longa conta com a direção eficiente e discreta de Peter Segal, que estava longe do cinema desde Agente 86 (2008). O elenco de apoio é outro trunfo, com destaque para Kevin Hart como o empresário que quer tirar o pé da lama e se desvincular da imagem do pai trapaceiro e Alan Arkin como o treinador Louis “Lightning” Conlon – mais um daqueles tipos falastrões, desbocados e sarcásticos que o ator sabe criar tão bem. Outra curiosidade é ver Jon Bernthal, mais conhecido como o Shane do seriado The Walking Dead, como o filho desgarrado de Kid. Ótimo também o pequeno Camden Gray, o neto. Impagável o momento em que ele diz ao avô que é estranho chamá-lo de “Kid” (garoto) por ele ser velho.

Ajuste de Contas é uma boa comédia, que entretém do começo ao fim e sabe tirar partido da obviedade presente na maioria dos filmes que focam em histórias de superação para fazer rir. Aliás, não deixem de acompanhar os créditos finais do filme, sob pena de perder uma das mais piadas mais engraçadas. 

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