sábado, 11 de janeiro de 2014

Azul Resplendor


Depois de uma temporada em São Paulo, chega ao Teatro Sesc Ginástico Azul Resplendor. A peça, que estreou na última quinta-feira, também marca a comemoração dos 60 anos de carreira e 80 de vida de Eva Wilma. Para tanto, nada mais referencial do que aniversariar interpretando uma grande diva, uma espécie de Norma Desmond dos palcos. O texto do dramaturgo peruano Eduardo Adrianzén foi descoberto pelos diretores Renato Borghi e Elcio Nogueira Seixas durante um projeto por eles empreendido entre 2008 e 2009 que visava justamente incentivar o intercâmbio entre as dramaturgias de língua espanhola e portuguesa. 

Blanca Estela, a personagem de Eva Wilma, é uma grande atriz que se afastou de seu ofício sem explicações há mais de 30 anos. Sozinha, amargurada e esquecida pelo público, Blanca não consegue resistir à tentação quando é procurada por Tito Tápia, ator sem talento que passou a maior parte da vida cuidando da mãe doente e fazendo pontas inexpressivas no teatro e na TV. Mas Tito agora escreveu uma peça e tem um milhão de dólares para patrociná-la, o que finalmente lhe dá coragem para procurar Blanca, confessar seu amor platônico e convidá-la para ser a protagonista de seu espetáculo.

A estrela aceita, desde que a peça seja dirigida por um nome de peso. É então que entra em cena o incensado e vaidoso Antônio Balaguer, que tem ideias no mínimo discutíveis sobre teatro e, principalmente, autopromoção. O espetáculo investe na ironia metalinguística, que ganha muita força com a aparição deste personagem. Aliás, o elenco é um dos pontos fortes de Azul Resplendor: embora Eva brilhe como protagonista, todos os integrantes do elenco têm boas oportunidades de momentos-solo. Reina em cena a harmonia entre veteranos como Eva Wilma e Renato Borghi (em substituição a Pedro Paulo Rangel)  e atores de gerações mais recentes como Dalton Vigh, Luciana Borghi, Luciana Brites e Felipe Guerra. Especialmente interessante é a construção de Vigh: em um papel completamente diverso dos galãs que a TV costuma lhe impor, o ator apresenta uma inesperada veia cômica como o diretor ambicioso que passa por cima de tudo e todos não em nome da arte e sim visando novas polêmicas que o deixem cada vez mais famoso, temido e adorado.


O cenário funcional de André Cortez e a iluminação precisa de Lúcia Chediek ajudam a dar dinamismo à montagem bacana concebida por Borghi e Seixas. Por outro lado, o texto de Adrianzén não consegue evitar uma desnecessária guinada para o melodrama na parte final. O tom da peça, que até então primava pela ironia e fazia correlações bem divertidas com personagens que estamos acostumados a ver no meio artístico, ganha cores dramáticas que parecem um pouco em dissonância com o que vinha sendo apresentado até então. Um adendo dramático que enfraquece não apenas o texto esperto e cheio de frescor, mas também toda a energia do espetáculo.  

Em todo caso, vale a pena conhecer esse belo exemplo de dramaturgia sul-americana, além de prestigiar Eva e o afinado elenco nessa crítica ao falso vanguardismo e à pseudo-intelectualidade que permeiam o meio artístico como uma praga moderna.


Serviço:
Teatro Sesc Ginástico
De quarta a domingo às 19h
Ingressos a R$ 40,00 (sexta a domingo) e R$30,00 (quarta e quinta)
Até 23 de fevereiro de 2014

Nenhum comentário:

Postar um comentário