sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Rede de Mentiras


Apesar de toda tecnologia dos tempos modernos, o mundo da espionagem internacional ainda é regido por um princípio rudimentar: o sucesso de uma missão depende mais do montante de informações obtidas e controladas pelo agente e menos do aparato a seu dispor. A esperteza e a capacidade de manipulação de informações e pessoas ainda é a moeda de troca mais valiosa.

Rede de Mentiras é baseado no romance homônimo de David Ignatius, jornalista que cobriu o Oriente Médio durante dez anos para o Wall Street Journal. Leonardo DiCaprio é Roger Ferris, agente de campo altamente treinado da CIA que atua no Oriente Médio. Russell Crowe é Ed Hoffman, estrategista brilhante e implacável que controla as ações de Ferris via laptop e celular sem precisar deixar o conforto de sua vida em Washington. Enquanto o primeiro se envolve diretamente com os conflitos, o segundo tem a frieza de quem está fora da zona de perigo.

As diferenças de funções e, sobretudo, de personalidade dos dois parceiros explodem em conflito quando chega até eles a informação sobre um perigoso líder terrorista que, por evitar toda forma de tecnologia, tem se mantido fora do alcance dos órgãos de inteligência. Roger quer atuar em conjunto com o temido Hani Salaam, chefe do Departamento Geral da Inteligência da Jordânia (GID, em inglês), um homem que só perde em importância para o próprio rei. Já Hoffman quer bancar o esperto e usar os jordanianos sem retribuir na mesma moeda, mesmo que tal atitude signifique colocar em risco a vida de Roger.

Nessa história de mentiras e traições, fica bem claro para Roger que sua sobrevivência depende da sua capacidade de discernir quem é fiel e quem poderá trai-lo. O poderoso Hani, que tem como regra básica que não lhe mintam, exige estar a par de tudo que se passa. Hoffman, seu superior, crê que Hani não é confiável. Mas Roger tem dúvidas sobre o quanto pode confiar no próprio Hoffman e em sua obsessão por resultados que beneficiem os americanos a qualquer preço. E até que ponto ele mesmo conseguirá ser sincero com as pessoas que o ajudam sem sacrificar o sigilo de informações valiosas?

À frente do elenco, Leonardo DiCaprio prova que a tal maldição Titanic definitivamente ficou no passado e que sua excelente fase de maturidade artística está apenas começando. Seu personagem, agente esperto e durão que dá nó em pingo d'água, em certos aspectos lembra o estelionatário adolescente de Prenda-Me Se For Capaz – principalmente pelo carisma e capacidade de transmutação. Russell Crowe, sempre à vontade em personagens de caráter duvidoso, também está bastante convincente. Mas a melhor surpresa está na figura do britânico Mark Strong como o refinado e cruel Hani. Sua elegância e educação fazem com que cada ameaça velada soe ainda mais assustadora, sensação realçada pela excelente construção de personagem apresentada pelo ator.

O roteiro, escrito pelo oscarizado William Monahan (de Os Infiltrados), é inteligente e bem-estruturado, fazendo com que Rede de Mentiras seja um filme extremamente cerebral apesar de sua ação constante. Diante de tantos predicados, por que fica a impressão de que Ridley Scott deixou que tudo corresse frouxo? A trama é boa, o elenco idem e, ainda assim, resta a inexplicável sensação de que Rede de Mentiras poderia alcançar um patamar superior como filme se houvesse maior empenho por parte da direção. E não é de hoje que o cineasta de pérolas como Blade Runner e Thelma & Louise demonstra ter perdido a paixão em algum momento do caminho. Ainda é um bom executor, isso fica claro, mas a centelha da genialidade parece ter se apagado.

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