quinta-feira, 23 de julho de 2009

Inimigos Públicos


O filme conta a história de John Dillinger, audacioso assaltante de banco da década de 30. Charmoso, elegante e inteligente, o bandido ridicularizava a polícia e fascinava a população com suas fugas sensacionais. J. Edgar Hoover, que considerava a captura de Dillinger ponto de capital importância para conseguir um aumento de verba para seu FBI, coloca no seu encalço o incansável agente Melvin Purvis e autoriza que seus homens façam usam da força bruta para descobrir o paradeiro do inimigo público número 1 – o que desencadeia uma onda de violência policial sem precedentes.

O argumento acima tinha tudo para dar certo. Nas mãos de um Martin Scorsese, certamente renderia um dos melhores filmes do ano. Mas quem dirige é Michael Mann, cineasta que vem oscilando entre o razoável (Colateral) e o desastre total (Miami Vice). Inimigos Públicos, se não chega ao nível de calamidade deste último, tampouco chega a empolgar. É perda de tempo e, neste caso, bastante tempo, já são duas horas e vinte minutos de tiroteios barulhentos e pouco conteúdo. Ou teriam sido as incontáveis balas as verdadeiras responsáveis pelos buracos no roteiro? E olha que, para mim, falar isso de um filme protagonizado por Johnny Depp não é algo natural. Mas nem o incontestável brilho do ator atenua a sensação de frustração com o filme.

É bem verdade que Depp injeta uma aura de fascínio ao melhor estilo Humphrey Bogart no personagem, mesmo quando suas falas e atitudes carecem de profundidade. Mas quem era John Dillinger, além das bravatas públicas? O espectador continua sem saber. Marion Cotillard também engrandece suas cenas a despeito da limitação ainda maior do seu papel de mocinha-que-ama-o-malfeitor. E é o esforço individual deles que torna o filme digerível. Estranhamente, Christian Bale – em geral um bom ator – parece apático no papel do policial que persegue Dillinger. Está certo que seu papel não é dos mais simpáticos, mas tem-se a nítida impressão de que Bale está atuando de má-vontade.


O roteiro é cheio de incoerências ou fatos mal explicados. Um exemplo é quando Billie arma um estratagema para despistar a polícia e ir ao encontro de John. O artifício que ela usa até que é engenhoso, mas o que não se entende é como eles combinaram a escapulida, já que o filme sublinha o fato dela estar sendo vigiada e com escutas no telefone. Teria a moça simplesmente adivinhado que o amante estava na rua à sua espera?

São pequenas mancadas como essa que, associadas ao insistente uso do diretor da câmera digital em um filme ambientado na década de 30, fazem com que a credibilidade do longa escorra pelo ralo. Ao invés do elegante jogo de luz e sombras tão típico dos filmes de época, temos imagens modernosas e uma edição feita em um ritmo totalmente em desacordo com a história. Fica a impressão de um filme dentro de outro, como se os personagens estivessem brincando de gangsteres. Mais estranho que isso é perceber que Michael Mann anda, nestes últimos trabalhos, adquirindo os mesmos cacoetes estilísticos de Tony Scott. E creiam-me: isso não é um elogio. Não mesmo.

O desfecho só acentua a sensação geral de improviso (no mau sentido), o que soa quase anacrônico em um filme tão extenso. Mas as cenas finais parecem apressadas, malfeitas mesmo. Um filme equivocado, em todos os sentidos. Estréia nesta sexta.

2 comentários:

  1. Putz, achei um filmaço. Achei o Bale um tanto quanto apático, realmente, mas eu vi um filme de ação empolgante. Aquelas cenas de tiroteios com a câmera posicionada atrás da arma, parecendo um videogame, foi demais. E Johnny Depp é um monstro na tela!

    Até mais!

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  2. Pois é justamente essa massificação da estética videogame (até mesmo num filme de época, que coisa cansativa!) que eu acho muito banal... Um filme sobre um personagem riquíssimo como o Dillinger merecia um pouco mais cérebro e um pouco menos de adrenalina. Mas Depp é sempre bom, maravilhoso, claro. Só ele me impediu de cochilar.

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