quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Arraste-me Para o Inferno


Foi em 1981 que o americano Sam Raimi apresentou ao mundo um modo diferente de encarar o horror com The Evil Dead. Como o filme nunca foi lançado nos cinemas brasileiros, sua sequência, The Evil Dead II, apareceu aqui batizada como Uma Noite Alucinante. A câmera nervosa, o humor negro e, sobretudo, os exageros de escatologia fizeram o longa virar uma febre instantânea, um ícone dos anos 80. Diante disso, o primeiro filme surgiu nas locadoras com o nome original e até hoje muita gente pensa que A Morte do Demônio é a sequência de Uma Noite Alucinante. Raimi fez um terceiro filme da série, e depois foi emprestar seu talento a outros tipos de produção, como o western Rápida e Mortal, o suspense O Dom da Premonição e, claro, a trilogia Homem-Aranha.

Nada menos do que vinte e oito anos depois, o cineasta volta ao estilo de terror escatológico que fez sua fama. Eu confesso que desde a primeira vez que vi o cartaz deste filme, com Alison Lohman toda escabelada e o título Drag Me to Hell logo abaixo, fiquei louca para assisti-lo. Arraste-me Para o Inferno é daqueles títulos que, de tão apelativos, são simplesmente geniais.

Alison é Christine Brown, garota do interior que trabalha na seção de empréstimos de um banco. Meio complexada por suas origens, Christine deseja ardentemente subir na vida e, assim, impressionar a esnobe família do namorado. Seu objetivo é tornar-se assistente de gerência e, tentando impressionar o chefe, ela nega uma extensão de empréstimo a uma velha cigana que está prestes a ser despejada. Já viram tudo, né? Christine é amaldiçoada pela cigana, que coloca no seu encalço um demônio conhecido como Lâmia. O modus operandi do bicho é atormentar sua vítima durante três dias com pesadelos e alucinações. Ao fim desse prazo, a pessoa é arrastada para o inferno. Simples assim.

A maior qualidade de Arraste-me Para o Inferno é não se levar muito a sério, pois só assim os exageros e bizarrices deixam de ser defeitos e tornam-se qualidades. E algo que anda em falta nos filmes de terror, especialmente nos incontáveis remakes de produções orientais, é justamente essa capacidade de provocar no espectador sustos e risadas na mesma medida. Está certo que em muitos casos os risos vem de forma involuntária, por conta de longas toscos que se levam a sério. Não é o que acontece com esta produção propositalmente over, que flerta com o trash a cada segundo e conquista a cumplicidade do espectador graças à sua despretensão.

Outro ponto interessante é o modo como a protagonista, apesar de ser uma boa garota, perde a linha algumas vezes. Uma coisa que sempre soa extremamente falsa e repetitiva nas produções do gênero é como mocinhas e mocinhos sempre conseguem se manter relativamente controlados a despeito dos terrores que vivem – sem contar o inesgotável arsenal de camisetinhas justas. Christine realmente perde as estribeiras várias vezes ao longo do filme. A cena envolvendo o gatinho e a do cemitério merecem aplausos, assim como todas as cenas de disputa entre ela e seu desonesto colega de trabalho. Outro destaque inesquecível é a figura da cigana, com suas unhas duras e sujas e seu bisonho olho de vidro. E tome perseguição demoníaca, gosmas esverdeadas, esguichos de sangue, vermes nojentos, sombras com garras, portas batendo. Talvez apenas a estridência da trilha sonora seja um pouco excessiva, mas tudo bem.


Com Arraste-me Para o Inferno, Sam Raimi não pretende ser cult e elegante, muito menos ganhar prêmios. Ele quer apenas divertir, e alcança tal objetivo com maestria. Pode parecer um paradoxo, mas há muito tempo que eu não ria tanto assistindo a um filme de horror. E digo isso como um elogio. Amanhã nos cinemas.

2 comentários:

  1. "Gatinho! Gatinho...!"

    Vai dizer que tu não ficou agoniada com essa cena!?!?

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  2. Para piorar a agonia, eles ainda colocaram um filhotinho muito fofo... Só que os desalmados que estavam na cabine comigo tiveram um momento Friends revival e fizeram corinho cantando "smelly cat, smelly cat...". Pode?

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